Quem tem o cabelos crespos, com dreads ou tranças sabe a dificuldade que é utilizar um capacete. A reclamação é geral e, pensando em aliar segurança e adequação, empresárias baianas resolveram criar um capacete inédito: o Fordblacks, projetado para proteger e abrigar bem os cabelos afros. Iniciativa é uma realização da Casa La Frida Bike, projeto que fomenta a mobilidade urbana por meio de um modal mais acessível para pessoas negras e periféricas de Salvador, principalmente para as mulheres negras.
“A cidade, se tratando da mobilidade da bicicleta, é construída numa perspectiva para as pessoas brancas e os produtos também. Se não fosse por isso, não havia a necessidade de tantos produtos serem criados de maneiras específicas, como creme, base para pessoas negras, toucas para cabelos afros e o capacete surge dessa necessidade de não adequação”, diz Lívia Suárez (@livasuarez), uma das criadoras do capacete e fundadora do Casa La Frida Bike, projeto de Salvador que busca promover a bicicleta como modalidade sustentável, econômica e independente para mulheres negras e periféricas.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Pensando na questão da identidade, o capacete FordBlacks foi desenvolvido por uma equipe composta de pessoas negras da Bahia. Para além da segurança, o equipamento é projetado de uma maneira especial para os cabelos afros, com viseira magnética, abertura no topo da cabeça, formato maior e uma espuma Nudred no interior do equipamento que garante a proteção capilar. O design ciclista também foi criado para evidenciar a identidade afro.
“A gente cria o capacete pensando primeiramente na diametria adequada, na proteção, na proteção capilar, na evidência dos cabelos e identidade. Muitos dos produtos do ciclismo são criados numa perspectiva muito esportiva, então a gente traz uma identidade mais nossa”, explica Lívia.
Há um ano o capacete tem passado por testes para se adequar às normas de segurança da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Segundo Lívia, a previsão é que o FordBlacks chegue ao mercado em dezembro deste ano. Inicialmente, o capacete será lançado na loja da BiciPr3ta (@bicipr3ta), da La Casa Frida, em Salvador, e a expectativa é ampliar as vendas para todo o Brasil e exterior.
La Casa Frida
Fundado em 2015, o La Casa Frida surgiu inicialmente como uma cafeteria itinerante para ciclistas e tem em seu time as empresárias Lívia Suárez, Maylu Isabel, Nanda Lisboa e Alana Santana. Atualmente o ‘La Casa Frida’ é um espaço que desenvolve e realiza projetos de mobilidade urbana voltados para pessoas negras e periféricas de Salvador, principalmente para as mulheres negras.
Ao todo, são 10 projetos oferecidos na sede da La Casa Frida, localizada no Santo Antônio Além do Carmo, bairro do centro histórico de Salvador, que incluem cursos profissionalizantes para mulheres trans e travestis, oficinas de pedal e mecânica, aluguel de bikes, aulas de bicicleta para meninas e mulheres negras periféricas e quilombolas, além do compartilhamento e conserto de bicicletas de forma gratuita para entregadoras pretas. A sede também funciona como um espaço cultural, com apresentações musicais, saraus e residência artística.
A iniciativa também tem a BiciPreta, loja de bibicletas e movimento de ciclistas negros e negras focado em soluções de produtos e serviços de inclusão para a população negra e periférica.
“Hoje, a gente tem um movimento de cicloativismo negro, temos diversos projetos de inclusão e a gente tem uma loja de bicicletas que se chama Bicipreta, onde a gente cria bicicletas e produtos pensados para a população negra, seja na identidade ou na adequação de produto”, explica Lívia.
O impacto positivo da iniciativa fez com que o projeto recebesse premiações de mobilidade da Organização Transporte Ativo em parceria com o Banco Itaú, além dos prêmios Primeiro Passo (2017) e Segundo Passo (2018), também do Banco Itaú.
Mais informações sobre os projetos podem ser conferidos no site La Frida Bike e nas redes sociais da Casa La Frida e BiciPr3ta.
Leia também: Escola leva diversidade e inclusão para mercado da tecnologia