Leci Brandão gravou o seu primeiro álbum de samba em 1974. A então estudante de Direito na Faculdade Gama Filho, no Rio de Janeiro, já fazia parte da ala de compositores da escola Estação Primeira da Mangueira, onde foi a primeira mulher a participar do grupo de compositores da “Verde e Rosa”.
Neste dia 12 de setembro, Leci completa 77 anos de idade. Nos últimos dez anos, atuou como deputada estadual em São Paulo e está em seu terceiro mandato consecutivo pelo PCdoB. Leci foi a segunda mulher negra a ser eleita na ALESP (Assembleia Legislativa de São Paulo).
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
A produção legislativa da deputada destacou as demandas da negritude, diversidade e educação, tornando-se uma liderança pela sua capacidade de articulação com todos os campos políticos da casa.
“Meu desejo de aniversário é o mesmo desejo da maioria do povo brasileiro hoje, principalmente o povo preto: o de ter saúde e viver em um país com igualdade social, justiça, cidadania, sem fome, com vacina no braço, direitos básicos como saúde e educação garantidos para todos e sob um governo que tenha compromisso com o povo e não sob o desgoverno de um genocida que está, de todas as formas, levando o país para o abismo”, conta Leci.
Em entrevista à Alma Preta Jornalismo, a deputada e sambista também analisou a situação política do país ao destacar o crescimento da crise institucional. “Apesar de toda a perversidade e desse projeto de destruição que vivemos por conta desse desgoverno, eu tenho esperança de que, com as graças de Deus, dos nossos Orixás e da nossa ancestralidade, logo isso vai passar”, afirma, referindo-se ao governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Leci falou também sobre a capacidade de organização e reação dos brasileiros. “Acredito que aqueles e aquelas que estão à frente das instituições e dos demais poderes tomarão medidas para parar com essa série de desmandos que temos vivido nos últimos tempos. Acredito também na indignação do povo e, principalmente, na força da juventude e dos movimentos sociais para dar um basta nisso”, detalha.
Uma liderança combativa e coerente
À pedido da reportagem, pessoas que trabalham com Leci Brandão comentaram sobre as características da aniversariante. “Ela tem uma capacidade de diálogo com todas as forças políticas e é respeitada por todos, assim ela consegue propor ações sem cair em conflitos”, diz o assessor Roberto Almeida.
O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP), eex-ministro dos Esportes, considera que Leci é uma “joia rara” e se tornou uma liderança nacional na política. “Como artista, ela já era militante, porque sempre fez da arte uma forma de engajamento na defesa do povo. Então, a política foi natural e o PCdoB também contribui para essa jornada de sucesso. Como parlamentar, ela se firmou como uma grande liderança, combativa, coerente com sua trajetória de vida”, avalia.
A assessora parlamentar Rozina de Jesus acompanha Leci desde 2010. “Hoje são 14 deputadas entre 94 parlamentares, e apenas três são mulheres negras. Ainda é um espaço muito difícil para a defesa das pautas sociais. Leci é uma guerreira incansável na luta por melhorias para o povo”, reforça.
O mandato de Leci no estado paulista aprovou projetos de lei sobre a violência obstétrica, dia do Orgulho Crespo e a inclusão de aulas sobre a Lei Maria da Penha no currículo escolar. Por iniciativa da deputada, todo mês de março é realizado o Prêmio Theodosina Ribeiro para mulheres negras que são referência no Estado.
Entre os projetos em andamento de Leci, o destaque é a proposta para uma política estadual de fomento ao empreendedorismo, além de projetos de saúde e educação com recortes de gênero e raça. Leci batizou o seu mandato como ‘Mandato do Quilombo da Diversidade’. “Para o povo e construído pelo povo”, comenta Rozina.
“Continuo acreditando na força da arte”
O LP de estreia da carreira musical de Leci Brandão foi produzido pelo selo Marcus Pereira, conceituado pelo lançamento de grandes sambistas entre as décadas de 1970 e 1980, foram mais de 140 discos de artistas como Cartola, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, além de cantores e grupos regionais do Nordeste, Norte e Sul do Brasil.
O amigo e parceiro Rappin’ Hood também falou à reportagem sobre a importância do apoio que a Leci deu aos novos talentos da música, sobretudo com a valorização da cultura hip-hop. “Ela é minha madrinha, uma artista ímpar. Ela sempre foi empoderada. Uma rainha do orgulho preto feminino. Ela gravou no meu primeiro videoclipe e ajudou a alçar o meu trabalho para o Brasil inteiro. Ela merece tudo de bom. Eu amo a Leci. É uma honra ser afilhado dela”, disse o rapper.
Leci diz que o samba faz parte da sua vida e segue compondo. Ela compreende que a música tem um importante papel na transformação social. “O samba continua vivo, corajoso, alerta a tudo o que está acontecendo. Continuo acreditando na força da arte, do samba, de seu poder de transformação e de seu papel político”, completa.
Em homenagem à artista, neste 12 de setembro o ator e cantor Erick Cesar fará uma live performance como Leci Brandão Cover interpretando as canções do álbum “Questão de Gosto”, de 1976. A transmissão ao vio começa às 19h no Instagram @lecibrandacover. “Leci merece todas as homenagens. Vai ser emocionante”, adiantou Erick.