Lançado nesta sexta-feira (10) no Afro Presença, o site oficial do painel do Observatório da Sustentabilidade Racial busca dar a dimensão crítica aos dados estatísticos sobre desigualdades socioeconômicas entre brancos e negros no setor de publicidade.
A palestra, mediada pela jornalista Cris Guterres, contou com a participação do economista Michel França, representante do Insper – Núcleo de Estudos Raciais; do diretor executivo da Rede Nacional do Pacto Global, Carlo Pereira; e da doutora Valdirene Assis, coordenadora do Projeto Nacional de Inclusão de Jovens Negras e Negros do Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP).
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“O termo sustentabilidade racial é justamente compreender que sustentabilidade demanda um equilíbrio dos valores que nela estão embutidos. Ela compreende classicamente uma dimensão econômica, social e também ambiental. O aspecto racial do âmbito social da sustentabilidade no Brasil é algo inafastável”, afirmou Valdirene.
Um ponto foi levantado para iniciar a conversa: cerca de 11 milhões de negros ingressaram na universidade, mas a taxa de desemprego desse grupo continua alta, o que inclui o setor da publicidade. “Dentro do nosso trabalho, as estratégias servem não só para monitorar, mas para enxergar essas desigualdades e enfrentá-las”, ressaltou.
Brancos têm mais cargos na publicidade que os negros
O objeto de estudo dessa primeira fase do Observatório de Sustentabilidade, segundo França, foi a publicidade e propaganda. A análise concluiu que a população branca tem maior presença que a população negra em todos os grupos de cargos do setor publicitário, compondo apenas cerca de 15% do quadro de diretores e dos cargos estratégicos do setor.
“Ao olhar os cargos de gerência ocupados por pessoas negras na publicidade, de 2012 até recentemente, é possível constatar que houve um certo avanço, mas ainda muito modesto. Um ponto de destaque é a remuneração entre homens brancos e negros e mulheres brancas e negras. Existe aí uma disparidade”, salientou.
Os dados levados ao debate mostram que pessoas negras em cargos de diretoria no setor da publicidade recebem, em média, 54,3% do salário de uma pessoa branca. Em posições de menor prestígio esse valor chega a 68,7%.
A questão levantada por França aponta ainda que a população negra corresponde à cerca de 30% do quadro colaboradores do setor publicitário, e que tanto homens como mulheres negras são cerca de 15% dos funcionários. A população branca tem uma representação maior no setor, com 28,9% de mulheres brancas, e 26,2% de homens brancos, compondo mais da metade do quadro geral.
“Isso se tornou mais acentuado após a crise econômica/sanitária. O setor de publicidade é relevante para se pensar a questão racial no Brasil, principalmente pela questão da reprodução, pois entra no imaginário coletivo alguns estereótipos sobre a população negra”, ressaltou.
Atitudes de transformação
“O que nós precisamos é mostrar coisas concretas, que os espaços existem. O objetivo é mostrar que as pessoas negras são bem quistas e bem vindas nos processos seletivos. O problema não está no candidato negro, e sim no mercado”, ponderou a procuradora do MPT-SP.
Já o diretor executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Pereira, avaliou que é necessário se preocupar com as posições de poder ocupadas por pessoas negras e manter esse debate aceso no mercado corporativo. Outro ponto destacado foi de que as empresas pequenas possam servir de exemplo de inclusão racial e de gênero para corporações maiores.
“O nível máximo de uma empresa é fazer parte do conselho, e 50% das vagas em conselhos dos Estados Unidos são de pessoas negras, a partir do movimento gerado no pós George Floyd. É necessário ter clareza sobre o que a gente precisa pensar e agir a respeito da sustentabilidade racial nos espaços. Ou seja, os números devem bater com o que o discurso diz”, pondera.
Carlo ressalta que o Pacto Global mantém uma conversa ativa para estabelecer uma meta de contratação de pessoas negras até 2030, a fim de criar grupos de trabalho diversos e inclusivos. “O objetivo é abrir espaço em posições de liderança até 2030. Estamos calibrando números ainda, mas vamos colocar essa proposta para o mercado”, finaliza.
A segunda edição do Afro Presença 2021 é idealizado e coordenado pelo Ministério Público do Trabalho em São Paulo (MPT-SP) e tem realização da Rede Brasil do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas).