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Polícia revisa B.O e investiga atentado contra candomblecistas como intolerância religiosa

Inicialmente, caso de seguranças que atiraram quatro vezes em grupo de religiosos foi categorizado apenas pelos crimes de 'disparo de arma de fogo', 'ameaça' e 'constrangimento ilegal'; polícia de São José dos Campos revisou o boletim de ocorrência após repercussão na imprensa

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nadine Nascimento I Imagem: Arquivo pessoal

candomblecistas conseguem alterar BO para queixa de intolerância

3 de setembro de 2021

O atentado sofrido pelo babalorixá Diego de Ogum e outros dois filhos de santos, no dia 19 de agosto em São José dos Campos (SP), será investigado como intolerância religiosa e tentativa de homicídio, após revisão do boletim de ocorrência (B.O.) feita pela polícia. Inicialmente, o caso dos seguranças que atiraram contra os candomblecistas foi categorizado apenas pelos crimes de disparo de arma de fogo, ameaça e constrangimento ilegal.

A primeira versão do B.O. foi feita no dia 23 de agosto, sendo revisada por duas vezes, nos dia 25 e 1º de setembro, após repercussão na imprensa e a entrada do advogado Flávio Campos no caso.

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“A lei contra o racismo religioso, que é de 1989, é pouco aplicada nas delegacias brasileiras. Isso causa um problema muito grande na luta contra o discurso de ódio e na luta contra os crimes de intolerância. As violências contra o povo de terreiro são constantes. Temos uma legislação que não é aplicada como deveria ser”, pontua Campos.

Os candomblecistas estavam em uma rotatória na frente do cemitério particular Memorial Bom Retiro, do grupo Grupo Aussel, quando foram xingados e ameaçados pelos seguranças terceirizados da empresa Vip Master: “Não vão pegar nada aí, não, seus macumbeiros desgraçados”, gritaram depois que um dos religiosos tentou explicar o que faziam ali.

Na sequência, quando o grupo ia embora de carro, os seguranças iniciaram uma perseguição com um veículo da empresa Vip Master e dispararam quatro tiros, sendo que um deles atingiu a lateral do carro dos candomblecistas.

“Já passaram quase duas semanas do crime e não se sabe ainda quem é autor dos disparos, quem estava trabalhando no dia, quais eram as armas e a documentação da empresa. A investigação segue de forma burocrática. Nem a perícia no carro foi feita”, afirma o advogado.

Por meio da assessoria jurídica da deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL), o caso será encaminhado para que o Ministério Público também investigue o atentado. “Como é um crime de intolerância religiosa, de natureza gravíssima, que é a tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe, o Ministério Público é o titular da ação penal e já pode investigar”, explica Campos.

A empresa Vip Master informou, por mensagem, que “está colaborando com as investigações” e “aguarda mais detalhes”.  O Grupo Aussel, responsável pelo cemitério, respondeu à solicitação da Alma Preta Jornalismo, e diz que vai colaborar com as investigação, mas não quis comentar o caso ou explicar a presença de seguranças armados dentro do cemitério.

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