O atentado sofrido pelo babalorixá Diego de Ogum e outros dois filhos de santos, no dia 19 de agosto em São José dos Campos (SP), será investigado como intolerância religiosa e tentativa de homicídio, após revisão do boletim de ocorrência (B.O.) feita pela polícia. Inicialmente, o caso dos seguranças que atiraram contra os candomblecistas foi categorizado apenas pelos crimes de disparo de arma de fogo, ameaça e constrangimento ilegal.
A primeira versão do B.O. foi feita no dia 23 de agosto, sendo revisada por duas vezes, nos dia 25 e 1º de setembro, após repercussão na imprensa e a entrada do advogado Flávio Campos no caso.
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“A lei contra o racismo religioso, que é de 1989, é pouco aplicada nas delegacias brasileiras. Isso causa um problema muito grande na luta contra o discurso de ódio e na luta contra os crimes de intolerância. As violências contra o povo de terreiro são constantes. Temos uma legislação que não é aplicada como deveria ser”, pontua Campos.
Os candomblecistas estavam em uma rotatória na frente do cemitério particular Memorial Bom Retiro, do grupo Grupo Aussel, quando foram xingados e ameaçados pelos seguranças terceirizados da empresa Vip Master: “Não vão pegar nada aí, não, seus macumbeiros desgraçados”, gritaram depois que um dos religiosos tentou explicar o que faziam ali.
Na sequência, quando o grupo ia embora de carro, os seguranças iniciaram uma perseguição com um veículo da empresa Vip Master e dispararam quatro tiros, sendo que um deles atingiu a lateral do carro dos candomblecistas.
“Já passaram quase duas semanas do crime e não se sabe ainda quem é autor dos disparos, quem estava trabalhando no dia, quais eram as armas e a documentação da empresa. A investigação segue de forma burocrática. Nem a perícia no carro foi feita”, afirma o advogado.
Por meio da assessoria jurídica da deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL), o caso será encaminhado para que o Ministério Público também investigue o atentado. “Como é um crime de intolerância religiosa, de natureza gravíssima, que é a tentativa de homicídio qualificado por motivo torpe, o Ministério Público é o titular da ação penal e já pode investigar”, explica Campos.
A empresa Vip Master informou, por mensagem, que “está colaborando com as investigações” e “aguarda mais detalhes”. O Grupo Aussel, responsável pelo cemitério, respondeu à solicitação da Alma Preta Jornalismo, e diz que vai colaborar com as investigação, mas não quis comentar o caso ou explicar a presença de seguranças armados dentro do cemitério.