“Os nossos atletas em geral são considerados heróis. Portanto, associar os paratletas à superação não necessariamente pode ser uma fala capacitista, até porque, desde a Grécia antiga, o esporte era um ato de heroísmo”, é o que diz a especialista em Psicologia do Esporte, Daniela de Oliveira.
Nesta mais recente edição, o Brasil, que levou 253 paratletas, terminou as Paralimpíadas de Tóquio na sétima colocação do ranking geral de medalhas e subiu ao pódio 72 vezes. Foram 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes.
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A paratleta Sabrina Custódia, de 29 anos, fala que, para além do capacitismo, é necessário que a sociedade, clubes e patrocinadores passem a enxergar os paratletas da forma real, não sob a ótica da compaixão. Praticante de atletismo e ciclismo, Sabrina conta que aos 18 anos sofreu uma descarga elétrica, o que ocasionou na amputação das duas mãos, perna direita e dedos do pé esquerdo.
“Foi aí que descobri os esportes paralímpicos. Eu estava em casa, sem fazer nada. Vi uma oportunidade de fazer alguma coisa que eu gostava”, relembra a atleta de São José dos Campos, em São Paulo.
Para ela, o esporte serviu de motivação para que ela aprendesse novamente a fazer as coisas cotidianas com autonomia e mobilidade. Aos poucos, Sabrina redescobriu suas capacidades e se adaptou à nova vida.
“Nós, paratletas, fazemos o que todos os outros atletas fazem. Treinamos muito, cuidamos da alimentação, nos divertimos. Às vezes as pessoas olham de forma curiosa, dizem que somos exemplos de superação e eu concordo. Mas os patrocinadores em geral precisam entender que precisamos de apoio para trazer as medalhas, não apenas de olhares de admiração”, pontua.
Já a psicóloga especializada em esportes pondera que é possível fortalecer a autoestima de paratletas sem lamentar a condição dessas pessoas. “Não é por que a pessoa é um paratleta que ela tem problemas de autoestima. Eles trabalham muitas coisas além, como a confiança no trabalho, disciplina, metas, objetivos. É uma série de habilidades e capacidades mentais”, reforça. “Devem ser levados em consideração os mesmo critérios e os mesmos parâmetros, para paratletas e os demais atletas. É assim que se trabalha a inclusão: incentivando mais. Talvez, no início, com um investimento maior”, recomenda.
Apoio, investimento e preparo psicológico são fundamentais
A respeito de investimento, a paratleta Sabrina Custódia avalia que os desportistas que utilizam algum tipo de equipamento para a prática de esportes, como próteses, órteses e cadeiras de rodas, necessitam de valores acima da média.
“Muitas vezes é impossível mostrar que você é bom por falta de equipamentos de qualidade. Eu ainda tenho o patrocínio das próteses, e quem não tem?” questiona. “Os patrocinadores só começam a investir quando você está no auge, mas deveriam ver o esforço de cada atleta”, completa.
Na época de pré-competição, Daniela diz que o preparo psicológico dos paratletas trabalha alguns pontos essenciais, como visualização de prova, foco na performance, técnicas e rotina. “São táticas que vamos usar para segurança desse atleta. A rotina e rituais pré-competitivos são importantes para um bom desempenho. Isso é trabalhado em uma temporada inteira”, explica.
Treinos e perspectivas de futuro
Com treinos de segunda à sexta-feira, Sabrina Custódia afirma que a rotina é puxada quando se tem objetivos a longo prazo. Por praticar duas modalidades, a paratleta também faz musculação para complementar as atividades.
“Dia de sábado, quando ainda tenho um pouco de fôlego, fazemos treinos longos de ciclismo, pois nessa modalidade eu tenho mais chance de conseguir ir para as Paralímpiadas. Estou focando bastante porque estou indo bem”, comenta.
Pelo ciclismo, Sabrina afirma que o sonho é conseguir se classificar para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. “Já comecei a analisar as minhas concorrentes. Seus pontos fracos e fortes. Estou com esse foco: vou para Paris para tentar uma medalha. Não depende só do meu querer, depende do meu corpo, mas eu quero muito”, finaliza.
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