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Yalorixá Bernadete Souza lança pré-candidatura para disputar governo da Bahia em 2022

Mulher negra, feminista, educadora e ativista, Mãe Bernadete tem um trajetória política ativa nos movimentos sociais e pela defesa da reforma agrária

Texto: Dindara Ribeiro | Edição: Lenne Ferreira | Foto: Divulgação

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23 de julho de 2021

Mulher negra, feminista, ativista do movimento negro, educadora, letróloga e yalorixá do Terreiro Ilê Axé Odé Omí Ewa, na cidade de Ilhéus, na Bahia. Esses são alguns dos atributos que definem Bernadete Souza, 53 anos, vice-presidente do PSOL em Ilhéus e que teve o nome lançado, no último domingo (18), para a pré-candidatura das eleições de 2022 para o Governo da Bahia. A nomeação só será confirmada após as eleições internas da legenda.

A sugestão do nome foi da co-vereadora Laina Crisóstomo, da Mandata coletiva Pretas por Salvador. Para Laina, Mãe Bernadete, como é chamada, representa a diversidade defendida pelo partido e o futuro que eles querem construir para a Bahia.

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“Bernadete é o melhor nome nesse cenário para construir, pautar e para fazer a disputa em 2022. Vai ser uma disputa dura. Todos os partidos têm pensado em nomes de homens brancos. Sem sombras de dúvidas, ela vai fazer, não só o contraponto a isso, mas vai construir um projeto político para mostrar que mulher preta tem projeto político de sociedade”

Bernadete Souza Ferreira é natural de Estância, em Sergipe, e chegou na Bahia ainda pequena, aos 9 anos. Cria da favela às margens do Rio Fundão, em Ilhéus, tem um histórico de luta pautado nos movimentos sociais, na valorização das religiões de matrizes africanas e pelos direitos dos povos tradicionais. Sua militância se enraizou no movimento comunitário do Fundão, onde se tornou presidenta da Associação de Moradores. Na trajetória política, foi a única mulher a concorrer à prefeitura de Ilhéus em 2020 e se candidatou como co-senadora pelo PSOL em 2018. Em ambos os pleitos, ela não foi eleita. Agora, Bernadete é cotada para ser a primeira representante estadual com a cara da Bahia: mulher, preta e de axé.

Em entrevista à Alma Preta, a pré-candidata fez um apanhado geral sobre as pautas que defende como pessoa política e pelo partido que representa, o PSOL. Para ela, a principal prioridade da legenda será a inversão das prioridades feitas pelos governos anteriores, que marginalizam os públicos mais vulneráveis, como a população negra e periférica.

“A nossa prioridade é a inversão dos recursos públicos que são aplicados nessa construção política/histórica onde as pessoas, principalmente as pessoas negras, do campo e periféricas, sempre estão à margem dessa sociedade e excluída dos recursos públicos”, afirma Bernadete.

O nome da dirigente chega em um momento em que a Bahia vive um dos seus piores momentos na questão da segurança pública. Dados da Rede de Observatórios da Segurança apontam que a Bahia tem a polícia mais letal do Nordeste. O relatório “A Cor da Violência” indica que, em 2019, 96,9% das pessoas mortas pela polícia na Bahia eram negras. O último levantamento do Monitor da Violência também mostra que o número de policiais da ativa mortos teve crescimento de 38% entre 2019 e 2020, o que indica o possível resultado dos brutais confrontos em ações policiais com uma consequência negativa para todos os lados. O momento, segundo Bernadete, é de “insegurança pública”.

“Quando a gente fala da polícia, a gente não está falando da pessoa, mas de uma estrutura que é montada a partir do Estado, que tem uma força e que é organizada a partir da própria estrutura de como ela foi formada. Quando se fala dessa questão de policiais, que são trabalhadores, muitos morrem e muitos matam […] Hoje, com a violência que cada dia mais avança, esses policiais são formados para atuar e para agir de formas diversas em nome do Estado”, pontua Bernadete, que sugere diálogos a respeito da desmilitarização e da elaboração de novas formas de segurança, especialmente para a população negra.

Especialista em Educação do Campo e Agroecologia pela USP (Universidade de São Paulo), Bernadete também é agricultora e assentada da reforma agrária. Ela defende uma política que garanta o direito de moradia e produção sustentável para a população sem terra.

“A Agroecologia é pensar no bem viver das pessoas, é falar de uma cidade e campo sustentáveis. O que a gente está vendo hoje na Bahia é o agronegócio cada vez mais se fortalecendo e prejudicando os trabalhadores e trabalhadoras que fazem agricultura, que constroem para esse Estado de uma forma orgânica […] A gente precisa construir na Bahia uma nova forma de fazer uma política rural para que a cidade seja sustentável a partir do que está sendo construído nesse espaço”, completa.

Como mulher de axé, Bernadete diz que deve encarar um desafio no pleito de 2022 diante da intolerância religiosa presente não só na Bahia, mas em todo o país, a exemplo de uma das diversas falas preconceituosas do presidente Jair Bolsonaro que, durante campanha eleitoral em 2017, defendeu que no Brasil não existe Estado laico, mas sim, um estado cristão e que “as minorias têm que se curvar às maiorias”.

“Quando a gente fala em um estado laico, a gente precisa assegurar que as pessoas possam ter suas religiões, até por conta dessa diversidade que o nosso país tem. Aqui na Bahia, muitas pessoas até negam porque continuam com medo de dizer que é de religião de matriz africana. Ser de religião de matriz africana é a gente garantir e pisar no nosso lastro enquanto povo negro em relação a nossa ancestralidade”, diz Bernadete, que completa “Enquanto yalorixá, mulher de axé, nesse momento, é um desafio porque a gente coloca o nosso rosto e tem que se preparar com o que vem pela frente”.

Para o cenário político de 2022, Mãe Bernadete se mostra otimista e diz que as mobilizações contra o genocídio da população negra e pela defesa de direitos pode resultar em novos candidatas e candidatos ativistas. Como exemplo, ela cita a Mandata coletiva Pretas por Salvador, que tem como co-vereadoras Laina Crisóstomo, Cleide Coutinho e Gleide Davis.

“A gente precisa se fortalecer, indo para as ruas, eleger representantes nossos e nossas para que a gente possa dialogar e levar nossas pautas. Disputar a nossa pauta é o fundamental porque em alguns momentos isso é nos negado, mas a gente nunca conseguiu nada de graça e de mão beijada. Os espaços que a gente ocupa, a gente vai para o enfrentamento. Para nós, principalmente mulheres negras, se a gente quiser ocupar esses espaços temos que arrombar a porta e entrar porque senão não vão abrir para que a gente entre”, completa.

Leia também: Propostas de promoção da igualdade racial podem ser um diferencial nas eleições de 2022

  • Dindara Paz

    Baiana, jornalista e graduanda no bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade (UFBA). Me interesso por temáticas raciais, de gênero, justiça, comportamento e curiosidades. Curto séries documentais, livros de 'true crime' e música.

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