O Ministério Público da Bahia (MP-BA) apresentou denúncia e o pedido de prisão preventiva de 13 pessoas acusadas de envolvimento na morte de tio e sobrinho suspeitos de furtar carne no supermercado Atakarejo, em Salvador.
As vítimas, Bruno e Yan Barros, de 29 e 19 anos, foram mortas no dia 26 de abril, quando seguranças e outros funcionários do supermercado levaram tio e sobrinho para serem executados por pessoas envolvidas com o tráfico de drogas no bairro do Nordeste de Amaralina. As investigações também apontam que os funcionários pediram R$ 700 para liberar as vítimas. Os corpos de Bruno e Yan Barros foram encontrados com sinais de tortura e tiros dentro do porta malas de um carro.
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Um vídeo gravado no mercado também mostra o momento em que Bruno e Yan são agredidos por funcionários, que só foram afastados 11 dias depois do ocorrido, no dia 6 de maio.
A apuração do caso durou dois meses e contou com uma operação policial. O inquérito do caso foi concluído no dia 6 de julho, quando a Polícia Civil indiciou 23 pessoas, entre funcionários do mercado e suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas. Dos 23 indiciados, dez já estão presos. Segundo a Polícia Civil, dos dez presos, seis são suspeitos de tráfico de drogas e quatro são funcionários do mercado. Além disso, 13 pessoas seguem foragidas, sendo que um deles é funcionário do Atakarejo. Os demais possuem envolvimento com o tráfico.
Denúncia
A denúncia foi apresentada pela promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo do Júri (NUJ), Ana Rita Cerqueira Nascimento, que informou, em coletiva de imprensa, que as treze pessoas foram denunciadas com base em provas materiais obtidas pela promotoria. Os envolvidos foram denunciados por crimes de homicídio qualificado (por motivo torpe, meio cruel e sem possibilidade de defesa das vítimas), constrangimento ilegal, cárcere privado, extorsão e ocultação de cadáver.
O Ministério Público disponibilizou imagens do dia do crime, que mostram o momento em que os envolvidos no crime levam Bruno e Yan para um estacionamento, onde foram agredidos.
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De acordo com o Ministério Público, foram acusados por homicídio qualificado, constrangimento ilegal e extorsão o gerente-geral do supermercado, Agnaldo Santos de Assis, o encarregado de prevenção de perdas do mercado, Cláudio Reis Novais, e o funcionário Cristiano Rebouças Simões, que aparece em imagens pegando o celular de Bruno.
Pelos crimes de homicídio qualificado e cárcere privado foram denunciados Victor Juan Caetano Almeida, David de Oliveira Santos e Francisco Santos Menezes, apontados como os responsáveis por entregar as vítimas a traficantes no bairro do Nordeste de Amaralina.
Já por homicídio qualificado, foram denunciados Lucas dos Santos, João Paulo Souza Santos, Alex de Oliveira Santos, Janderson Luís Silva de Oliveira e Rafael Assis Amaro Nascimento, identificados pela polícia como responsáveis pela execução de tio e sobrinho.
Por ocultação de cadáver, o MP-BA denunciou Michel da Silva Lins e Ellyjorge Santos Lima.
Dor da Família
No dia do crime, Elaine Costa recebeu fotos do filho morto dentro do carro. A mãe de Yan Barros, de 19 anos, Elaine Costa contou à Alma Preta que ficou abalada e que a família ainda está muito triste com o que aconteceu. No entanto, disse que se sente contente com o andamento do caso.
“A Justiça está sendo feita, graças a Deus. Onde ele estiver agora, ele está vendo que eu estou correndo atrás de Justiça por isso que fizeram com ele”, disse Elaine.
Mãe solo de quatro filhos e autônoma, Elaine disse que Yan era o filho mais apegado a ela e que ele tinha o sonho de ser youtuber para ajudar a mãe.
“Ele dizia: “Não se preocupe não, minha mãe. Eu vou virar youtuber e dar uma vida melhor para a senhora […] Nunca imaginaria ter perdido ele dessa forma”, relembra a mãe.
Quatro dias depois do crime, a família de Bruno e Yan Barros fez uma manifestação em frente ao supermercado, localizado no bairro de Fazenda Coutos. A mãe de Bruno, Dionésia Pereira, passou mal e, aos prantos, questionou a morte do filho.
“Matar meu filho, o que foi que meu filho fez? Meu filho morreu com fome porque não teve coragem de me pedir comida”, desabafou a mãe ao G1 Bahia.
Posicionamento Atakarejo
Procurada pela Alma Preta, a assessoria do Atakarejo informou que não vai comentar sobre as denúncias. Disse também que espera que “todos os fatos sejam esclarecidos o mais rapidamente possível e que todos os responsáveis pelo fato lamentável ocorrido no Nordeste de Amaralina sejam devidamente punidos”. Em nota, também disse que “diversas medidas de aprimoramento do nosso serviço visando o enfrentamento ao racismo estrutural já estão em curso e serão divulgadas em breve”.
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