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Mulher trans é morta a facadas no interior de Pernambuco

Fabiana da Silva Lucas, 30, foi assassinada na madrugada desta quarta-feira (7) no município de Santa Cruz do Capibaribe; só este mês, o Estado registrou outros dois casos de pessoas trans e travestis mortas 

Texto: Victor Lacerda I Edição: Lenne Ferreira I Imagem: Reprodução 

Morte de transexual negra é registrada no Agreste de Pernambuco; mais um caso preocupa ativistas

7 de julho de 2021

Pernambuco registra mais um caso de crime de ódio e violência contra pessoas transexuais e travestis. Desta vez, o caso sai do eixo da capital e região metropolitana e é registrado no Agreste do estado. Na madrugada desta quarta-feira (7), Fabiana da Silva Lucas, de 30 anos, foi encontrada morta às margens da rodovia PE-160, na altura do município de Santa Cruz do Capibaribe. A vítima foi surpreendida por golpes de faca, sem a possibilidade de se defender. 

Natural da Paraíba, Fabiana era moradora do município e estava em um bar localizado no bairro de Cruz Alta quando veio à óbito. Informações iniciais das investigações da Polícia Civil de Pernambuco encaminhadas à imprensa confirmam que o suspeito, um jovem de 22 anos, é conhecido pelo apelido de “Gaúcho” e estava em um bar, onde a vítima também se encontrava no momento do crime. Ele foi linchado por populares no local, ainda de acordo com a polícia.

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O suspeito da autoria foi encaminhado, com ferimentos, ao Hospital da Restauração, centro de referência em atendimento de emergência e ambulatorial na região central do Recife. De acordo com informações da assessoria da unidade, o estado dele é grave e segue sob custódia da polícia. 

O corpo de Fabiana foi identificado e encaminhado ao Instituto de Medicina Legal de Caruaru, município localizado também na região Agreste do estado. O registro do caso e as investigações seguem feitas na 17ª Delegacia Seccional de Polícia Civil de Santa Cruz do Capibaribe.

Recorrência de transfeminicídio nas últimas semanas

A morte da transexual se soma aos recentes casos registrados no Recife.  Na madrugada da última segunda-feira (6), a travesti negra Crismilly Pérola foi assassinada com tiro à queima-roupa na Comunidade Beira Rio. No último dia 18 de junho, a transexual negra Kalyndra Selva foi encontrada morta com marcas de estrangulamento dentro de sua própria residência, no bairro do Ipsep, na Zona Sul do Recife. O ex-companheiro é o principal suspeito. Já no último dia 24, em um dos pontos mais movimentados da cidade, a travesti Roberta da Silva teve 40% de seu corpo queimado no Cais de Santa Rita, na região central. Ela, que segue internada no Hospital da Restauração, teve seus dois braços amputados por complicações das queimaduras na pele. Um adolescente foi identificado como autor do crime. 

Em publicação via rede social, a advogada e codeputada estadual, Robeyoncé Lima, expressou a indignação com a sucessão de casos. “Pode estar parecendo repetitivo para vocês, imagina para quem sofre transfobia? Não queremos que essas redes sociais virem um obituário! Não quero ocupar todos os meus dias falando de nossas mortes!” disparou. 

Leia também: Travesti negra é assassinada com tiro à queima-roupa no Recife

Para a pesquisadora da Rede de Observatório de Segurança e membra do Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRANS), Dália Celeste, os casos alertam para um sistema enraizado presente contra a comunidade. “O que estamos vivenciando no estado é um processo que não são de casos isolados, mas, sim, que representam uma cultura de extermínio. Casos como o de Kalyndra e Roberta, por exemplo, apresentam fatores que exemplificam como o transfeminicídio é algo enraizado na nossa sociedade. O homem, principal autor dos casos, não consegue lidar com o desejo por um corpo que lhe foi ensinado odiar diariamente. Isso nos ajuda a entender que isso é um problema que precisa ser trabalhado dentro da cisgeneridade. É necessário que essas pessoas começem a dialogar e se responsabilizar por esses processos de execução”, declara para a Alma Preta Jornalismo. 

Reunião emergencial entre parlamentares

Em reunião de caráter emergencial entre mandatos  e movimentos sociais do Recife, Olinda e Paulista na tarde da última terça-feira (6), o encaminhamento central de início às políticas públicas exclusivas à comunidade foi o da criação de uma frente parlamentar popular com gestores de Pernambuco que apoiem o movimento trans e travesti para criar ações e fiscalizar leis que já existam. 

Segundo informações repassadas pela assessoria da mandata Juntas Co-deputadas para a Alma Preta Jornalismo, a pauta principal do movimento, agora, será o da criação de uma casa abrigo, que deverá ser implementada pelo governo do estado. Os parlamentares presentes no encontro virtual se comprometeram a destinar emendas para ajuda na execução da proposta, mas ressaltam que o comprometimento da gestão estadual em manter essa casa abrigo e fazer com que as emendas também sejam executadas é fundamental.

Por fim, parlamentares pensaram em uma campanha de arrecadação para auxiliar também em uma conferência com travestis e pessoas trans, objetivando a criação de um documento com as principais demandas do movimento para ser encaminhado, o quanto antes, ao executivo. 

Ainda segundo a pesquisadora Dália Celeste, a urgência para que casos como estes não sigam acontecendo, é que seja aberto um diálogo com a gestão estadual, o que não está acontecendo. “Costumo dizer que não enxergo o governo como omisso, ele sabe o que está acontecendo e está compactuando com esse extermínio. Precisamos falar sobre segurança pública desses corpos, implementar delegacias que tratam efetivamente desses crimes e mais casas que sirvam de abrigo para a comunidade. Mas, para isso, antes de tudo, o gestor precisa nos receber e trabalhar conosco nesse debate”, finaliza.

Leia também: Vereadora do Recife afirma não reconhecer mulheres trans e travestis como “normais”

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