Uma pessoa não-binária não se identifica com um gênero específico, isto é, não se vê nem como homem nem como mulher. Diferentemente de pessoas trans, que não se reconhecem com o gênero que foi determinado a elas a partir do órgão genital, e de pessoas cisgênero, que se correspondem com o gênero definido pela genitália. No Brasil, as pessoas não-binárias correspondem a cerca de 1,5% da população.
Os dados da pesquisa Scientific Reports, ligada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), apontam que pessoas trans e não-binárias representam juntas mais de 2% da população. Os índices são significativos, mas defasados, especialmente, por conta da dificuldade deste grupo em acessar direitos, como o sistema de saúde e o nome social.
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Em entrevista à Alma Preta, a psicoterapeuta Gabriela Marques explica que pautas ligadas a pessoas não-binárias e até mesmo transgêneras enfrentam a falta de dados concretos sobre quem é essa população.
De acordo com a psicóloga, há escassez de espaços de acolhimento que ampliem o diálogo com essa parcela da comunidade LGBTQIA+, ponto que pode ser agravado pelas condições sociais e o racismo. “É uma discussão política também, o caminho que precisa ser traçado ainda é longo e depende da união de todas as pautas que cada pessoa carrega”, pontua.
“Eu interrogo o gênero”
Para psicólogx não-binárix Abayomi Jamila, pesquisadorx em educação, existem “distâncias ainda não superadas” na discussão sobre gênero e raça. Aos 26 anos, conta que o processo para compreender sua identidade de gênero, reconhecendo-se também como uma pessoa negra, passou pela superação e compreensão dos resquícios do colonialismo hétero, cis, branco e patriarcal da sociedade.
“Eu acho que essas pautas não podem ser estar desvinculadas, porque quando falamos de pessoas negras, falamos de pessoas que possuíram uma socialização de gênero, e quando falamos de gênero falamos de pessoas racializadas. É por isso que visualizamos a crítica ao feminismo branco classe média que muitas feministas negras já fizeram”, argumenta.
Para elx, o diálogo sobre gênero é negligenciado pela grande mídia e, na maioria dos casos, dificulta o entendimento de pessoas mais leigas sobre o assunto. Com uma irmã grávida em casa, Abayomi diz que observa uma série de expectativas em relação ao bebê e reforça pontos mais importantes do que a definição do gênero — “um bebê precisa ser amado”.
Dentro do movimento negro e já atentx à inclusão de pessoas não-binárias em discussões políticas, na produção de conhecimento e cultura, elx considera que “é importante avaliarmos se algumas dessas questões não são abordadas por negligência e silenciamento”. Abayomi ainda ressalta a importância da participação de grupos diversos dentro das lutas sociais: “cada um tem, de forma individual, algo para oferecer”.