As mortes de Viviane Soares, 40 anos, Maria Célia Santana, 73, na Bahia, bem como da jovem Kathlen de Oliveira, 24 anos, grávida, que morreu após a bala perdida encontrá-la num suposto confronto do tráfico e policiais, no Rio de Janeiro, atestam que há, independentemente das governanças de esquerda ou conservadoras, afinidades genocidas estruturais empregadas pela Polícia Militar, como expediente duma política dos Estados Nações e do discurso de Guerra às Drogas.
Qual a solução? Dar capacitação antirracista pra os policiais com certeza que não é.
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Na moral, resgatem as contribuições da obra Black Power, mais a conceituação de racismo institucional descrita por Carmichael e Hamilton, porque a finalidade neocolonial da instituição polícia valida a violência aberta, sistêmica e antinegros, visando o controle populacional, regulação da mão de obra inapta ao trabalho e uma necropolítica, em atenção aos que vão morrer e aos que serão encarcerados, conforme descreve Ângela Davis e Achille Mbembe.
Tomar a polícia como boa praça, dando aos servidores a responsabilidade do racismo individual, não passa de desculpa para transferência de recurso público ao Terceiro Setor engajado. Ademais, os preconceitos de fora têm tecnologias menos efetivas que o racismo e a discriminação correlata das instituições.
Os comandantes recebem capacitação antirracista?
A segurança pública não muda a lógica desumanizante pra realizar o Estado Democrático de Direito. Então, o conceito britânico de racismo institucional é puro engodo. Neste caso, é improvável dizermos do fracasso coletivo duma instituição em prover o atendimento adequado para determinados grupos por causa da cor, raça, origem, quando a matança, tortura e prisão, são expedientes exitosos. Aliado a isso, os policiais ganham por produtividade e, assim, geram flagrantes forjados.
A oralidade da favela não tem valor diante da escrita dos autos e notícias veiculadas, a não ser quando a ação é filmada.
Não esperemos pedagogia de empoderamento negro para policiais, pois o fardado não representa a si próprio mas representa aquela instituição racista. À ele não cabe o argumento de que os próprios policiais negros violentam e discriminam. Quem dirige o Estado brasileiro é a alta patente branca. Que façam seus cursos de antibranquitude e anticolonialismo.
Direito e Medicina são conhecimentos hegemônicos. São poderes instituídos em Saúde Pública e Segurança Pública, até já expliquei no meu livro Ó paí Prezada, fruto da dissertação de mestrado defendida em 2010.
O usuário de crack comete crime sem receber atenção em saúde. Já o racista não demora muito a conseguir laudo médico pra encobrir seus crimes, sejam racistas pobres ou policiais negros.
*Carla Akotirene é escritora e pesquisadora, mestre e doutoranda em Estudos de Gênero e Feminismos na UFBA (Universidade Federal da Bahia). Concentra estudos sobre encarceramento, sistemas filosóficos africanos e violência letal.