O universitário Ricardo Lima da Silva, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), morreu após cair do prédio em que morava no campus da faculdade. O jovem de 25 anos cursava Geografia e participava do movimento estudantil e de luta contra o racismo no ambiente acadêmico. Segundo familiares e amigos, ele era vítima de racismo e bullying por parte dos professores e de outros alunos. O suicídio ocorreu no dia 25 de maio, depois de o universitário pedir ajuda à instituição de ensino e não receber.
Os pedidos de ajuda do estudante, que alegava perseguições, foram feitos por e-mail e cartas, mas, segundo quem conhecia Ricardo, a USP não respondeu. O universitário morava no Conjunto Residencial da universidade, onde também pediu ajuda e não foi atendido.
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Um amigo de Ricardo, que prefere não se identificar, conta que o estudante tinha consciência do racismo que enfrentava na universidade e atuava na luta contra preconceito e injustiças no campus. Em 2019, participou do Novembro Negro, promovido pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, onde questionou as dificuldades para enfrentar a invisibilidade social e a falta de crédito no meio acadêmico, por consequência do racismo.
“Ele pediu e demonstrou necessitar de ajuda de diversas formas, seja por atendimento e até em suas ações que o corpo institucional negligenciou”, descreve o manifesto feito por amigos e familiares de Ricardo. O jovem fazia tratamento psicoterápico no Hospital Universitário, onde era atendido semanalmente até o início da pandemia da Covid-19.
“Me sinto um pouco cansado de seguir relatando e voltando à memória do episódio”, relata o amigo de Ricardo. A família foi notificada da morte horas depois da queda e não recebeu nenhum tipo de apoio da Universidade de São Paulo. “Há falta de apoio ao enfrentamento por mais de uma vez da USP e do SAS (Superintendência de Assistência Social). Nem se quer bateram na nossa porta para perguntar sobre o caso ou oferecer apoio”.
“A culpa é da USP”
A partir da repercussão da morte de Ricardo, amigos e familiares realizaram um cortejo em sua memória, na Praça do Relógio da USP. Com fotos, flores e velas, os participantes apontaram negligência por parte da universidade e questionaram a omissão da instituição, com cartazes com frases como “A USP adoece e mata” e “A culpa é da USP”.
A Uneafro Brasil demonstrou apoio à família de Ricardo e cobrou a responsabilidade da reitoria da Universidade de São Paulo. “Não é de hoje que a USP tem sua imagem ligada ao racismo institucional. Exigimos que essas práticas sejam abolidas tanto do seu corpo docente como dos próprios alunos que reproduzem o racismo dentro dos campus”, ressaltou a instituição, que compõe a Coalizão Negra por Direitos.
A Alma Preta Jornalismo tentou contatar a USP via e-mail e WhatsApp, mas não obteve retorno. Caso a instituição de ensino se posicione, este texto será atualizado.