A campanha de imunização contra a Covid-19 tem perdido força no Brasil. Em abril, 1,5 milhão de pessoas não voltaram aos pontos de vacinação para tomar a segunda dose. Em maio, esse número saltou para 5 milhões, de acordo com informações do DataSUS, acervo de dados do Ministério da Saúde.
Cerca de 4,5 milhões de brasileiros não tomaram a segunda dose da Coronavac e 532 mil não tomaram a dose de reforço da AstraZeneca. Entre a primeira e a segunda dose da Coronavac, o intervalo é de 28 dias. No caso da AstraZeneca, o intervalo é de três meses. Em ambas vacinas é fundamental que a pessoa tome as duas doses.
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A perda de força da campanha de imunização pode ser explicada por problemas como mentiras sobre a vacina. “A única forma de combater a Covid-19 é a vacina. As pessoas não podem se deixar levar por notícias falsas e mentiras de WhatsApp. A melhor forma de se informar é pelos sites oficiais dos órgão de saúde”, afirma a enfermeira Mônica Calazans, em entrevista à Alma Preta Jornalismo.
Mônica foi a primeira brasileira vacina contra o coronavírus no país. Ela tomou a primeira dose da Coronavac em 17 de janeiro e a segunda no dia 12 de fevereiro. “Desde que eu tomei as duas doses não aconteceu nada comigo. As pessoas devem acreditar na ciência”, salienta a profissional de saúde.
Informações falsas sobre a vacinação contra a Covid-19 circulam nas redes sociais desde o ano passado e aumentaram nos últimos meses. A própria enfermeira Mônica foi alvo de fake news. Mais de 300 perfis falsos foram criados com o nome dela e circulou uma mentira de que ela teria morrido após ser vacinada.
As mentiras sobre a vacinação dizem também que os vacinados podem contrair doenças como HIV e câncer ou ter um chip implantado no corpo. Outras mensagens, com falso caráter científico, dizem que a vacina altera o DNA da pessoa e pode causar mutações. Também tem circulado a informação errada de que apenas uma dose da vacina seria suficiente.
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Infectologista desmente fake news
A infectologista Gladys Prado, do corpo clínico do Hospital Sírio-Libanês, destaca que alguns países optaram por vacinar mais pessoas com a primeira dose e postergar a segunda na esperança de que apenas uma dose já promovesse proteção. Embora alguns imunizades apresentem boa taxa de imunidade na primeira dose, a segunda é fundamental para garantir a proteção.
“De fato, parece que as vacinas da Pfizer e da Oxford têm algum efeito após a primeira dose, mas não é, de forma alguma, o suficiente para nos proteger. É fundamental receber a segunda dose”, pondera a também professora universitária e membro do programa de agentes populares de saúde da Uniafro.
Segundo a infectologista, a vacina não tem nenhum dos efeitos negativos sugeridos pelas fake news. “A célula contaminada tem suas funções modificadas e passa a produzir o vírus em vez de cumprir suas tarefas. Entre as vacinas disponíveis, a da Pfizer e da Oxford fazem com que algumas das nossas células se comportam como se estivessem invadidas pelo próprio vírus e passam a produzir partes do vírus. Essas partes, são reconhecidas pelo nosso corpo que produz os anticorpos e matam essas células”, explica.
A vacina é, sobretudo, uma forma de preparar o corpo humano para enfrentar o vírus, que até então era desconhecido para o organismo. “Com a doença, tudo isso acontece de forma descontrolada e com risco de morte. Com a vacina, acontece de forma muito leve e não é capaz de causar a doença. É uma forma de ‘ensinar’ nosso corpo a reagir de forma rápida e eficiente quando o vírus tentar nos invadir”, conclui a infectologista.