Localizado na periferia do Jardim Peri, Zona Norte da capital paulista, o terreiro Ilê Ase Omi Ewe Ajase e Caboclo Folha Verde concentrou arrecadações de cestas de alimentos da campanha “Se tem Gente com Fome, Dá de Comer”. na quinta-feira (5). Foram 100 cestas com frutas, legumes e verduras orgânicas, que serão doadas às famílias que também receberão um vale compras.
“O terreiro é uma extensão da comunidade, a gente se torna uma referência por oferecer o alimento para sanar a fome dos outros”, declara o pai Marcelinho de Logunedé.
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A ativista Adriana Moreira, da Coalizão Negra por Direitos reforça a importância da distribuição de alimentos em terreiros e o papel da alimentação para as religiões de matriz africana. “Historicamente, o povo de santo sempre teve uma relação de respeito e cultivo ao sagrado e com a terra. Retomamos princípios ancestrais aqui”, explica.
Em conversa com pai Marcelinho e mãe Shirley de Osanyin, Adriana reforçou o significado da parceria. “É uma entrega que fortalece os vínculos com o povo de santo e é de fundamental importância tê-la”, afirma.
Na parceria da Coalizão com o terreiro Ilê Ase Omi Ewe Ajase e Caboclo Folha Verde, o diálogo foi sobre os planos para o futuro | Foto: Roberta Camargo/Alma Preta Jornalismo
Mãe Shirley de Osanyin conta que o trabalho realizado pelo terreiro vai além do espiritual. “É um lugar que presta acolhimento e com aliados como a Coalizão Negra por Direitos, a gente acredita que vai caminhar sempre no sentido de ajudar cada vez mais pessoas vítimas da fome”, conta a ialorixá.
A mesma perspectiva é compartilhada pelo ativista Douglas Belchior, da UneAfro Brasil, que compõe a Coalizão. “É uma campanha que tem construído relações de fortalecimento da luta política contra o racismo no Brasil inteiro e isso precisa incluir o povo de santo”, considera.
“O terreiro tem um poder civilizatório”
“A gente tem um espaço de acolhimento para oferecer, principalmente para a juventude preta. O terreiro tem um poder civilizatório”, destaca pai Marcelinho, que antes da pandemia realizava eventos ligados à educação e cultura no terraço do terreiro.
O espaço, chamado de Terraço 18, já abrigou mostras de arte negra e saraus. Segundo o pai, a arrecadação e distribuição de alimentos, é uma das formas de manutenção da fé e do Axé durante o período de isolamento social.
Mãe Shirley relembra que se houvesse menos preconceito arrecadações de alimento como essa poderiam ter proporções ainda maiores e contemplar mais famílias. “Essas doações são muito importantes para mostrar o poder da união. E ainda tem muita gente na fila de espera”, conta.
O terraço do terreiro existe há cinco anos na região do Jardim Peri, em São Paulo. O espaço é dedicado à prática do acolhimento através de cultura e educação. | Foto: Roberta Camargo/Alma Preta Jornalismo
Apesar das dificuldades potencializadas pelo preconceito, os trabalhos para atender pessoas em situação de vulnerabilidade alimentar se mantêm. “Se a gente parar, seremos atropelados por tanta intolerância. A gente se utiliza disso para fazer valer a nossa ancestralidade e o que o Axé tem para oferecer de bom”, afirma a parceira de pai Marcelinho, que dá ênfase para o poder do terreiro na periferia. “A gente tem um modo de vida para ensinar para a sociedade tecnologias que garantem a sustentabilidade do Axé, através das trocas de Exú”, conclui o Ògá.