Um grupo de hackers invadiu uma live organizada pela Comissão de Igualdade Racial da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) sobre feminicídio e suas interseccionalidades. Um dos invasores, um homem branco, chegou a mostrar o pênis e a se masturbar.
A transmissão ao vivo começou por volta das 19h do dia 7 de abril, na plataforma Google Meet, com aproximadamente 20 espectadores. A invasão ocorreu cerca de 10 minutos após o início da transmissão e dois dos hackers se identificaram como Paola e Francisco. Eles sumiram cerca de três minutos depois.
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Participavam da live a doutora Camila Lima das Neves, presidente da comissão de Igualdade Racial da subseção da OAB de Santana, na Zona Norte da capital paulista, e a advogada Lenny Blue de Oliveira, de 67 anos, co-fundadora do MNU (Movimento Negro Unificado) e integrante da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo.
“A Camila estava falando sobre a Lei Maria da Penha. Foi uma invasão. De repente ele [um homem] apareceu falando coisas incongruentes, entrou a moça branca também com insultos e em seguida ele começou a se masturbar”, relata Lenny.
Os hackers entraram na live sem a necessidade de ‘permissão de acesso’. Além de se masturbar, o homem também tentou silenciar a fala de uma das advogadas. “Foi uma cena de extrema violência e ataque estruturado. A divulgação da live foi feita 24 horas antes”, explica Camila, que fez um ofício relatando o fato para a OAB e os membros da comissão.
A advogada disse que os hackers usaram expressões sexistas, racistas, machistas e misóginas e aparentavam ter idades entre 20 e 40 anos. Na manhã desta quinta-feira (15) a instituição ligou para a doutora Camila e informou ter interesse em tomar as medidas cabíveis.
“Foi uma violência contra a comissão, contra a OAB e contra a classe da advocacia. Foi um ataque a duas advogadas negras, à advocacia negra”, desabafa Camila.
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Espectadores relembram o ataque
O advogado e economista Wilson Mandela, membro da Comissão de Ética do MNU no Rio de Janeiro, foi um dos espectadores da live e reitera que ações realizadas por pessoas negras costumam ser atacadas. “Eu cheguei a ouvir o hacker gritar ‘Cala a boca’. As iniciativas feitas por negros e negras são constantemente atacadas por brancos racistas, infelizmente no Brasil é assim”, diz Mandela, que também integra o Coletivo LGBT do Movimento Negro Unificado.
A bacharel em direito, Marina Inês do Nascimento, também acompanhava a live no momento do ataque. “Foi um crime contra todos nós. Era um assunto de extrema necessidade e sobre violência contra as mulheres, sobretudo mulheres negras”, destaca Marina Inês, que também compõe a Comissão de Igualdade Racial da OAB.
“O evento incomodou e vai incomodar mais [os racistas], porque não vamos parar, vamos estar nos lugares fazendo as nossas falas e levando informações e dados importantes”, complementa a espectadora.