No dia 3 de março André Luiz de Oliveira Gomes, de 27 anos, foi preso acusado de participar da formação de uma quadrilha envolvida em 50 roubos de carga dos Correios, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, com risco de ser condenado a sete anos de prisão. A família afirma se tratar de um engano e que o verdadeiro autor do crime se chama Victor Felizardo, um homem também negro e com o biotipo físico semelhante ao de André.
Segundo a companheira dele, Mayara Nascimento, no dia da prisão a Polícia Civil disse que André só iria prestar esclarecimento e em seguida seria liberado. Ele foi detido e levado para Niterói sem o conhecimento da família e desde então está em cárcere.
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Acusado desse crime desde 2019, André já cumpria pena em regime semiaberto desde 2019. De acordo com a advogada Silvia Martins, a situação dele se agravou com a morte de Victor e por conta de um problema na tornozeleira eletrônica. A defesa diz que o aparelho apresentou mal funcionamento, como se ele tivesse removido do corpo, além de o vídeo do assalto apontar semelhança física entre Victor e André.
“Quando André foi preso pela Polícia Federal, em 2019, ele dizia que ouvia os policiais comentando: ‘pegamos o cara errado’. Mesmo assim, ele ficou preso por três meses e depois conseguiu sair em regime semiaberto, utilizando tornozeleira. Dessa vez, a Polícia Civil disse que ele só iria assinar e voltar e não trouxeram meu filho de volta”, conta a mãe Elizete Gomes.
(Foto: Reprodução/Redes sociais)
Busca por provas
Diante de evidências desconsideradas pela justiça e a declaração da viúva de Victor, de que quem aparece no vídeo e nas fotos divulgadas era o marido dela, a família de André passou a procurar provas do crime por conta própria. Nas redes sociais, os familiares encontraram fotos de Victor usando a mesma roupa e relógio do dia do assalto aos Correios e as imagens foram enviadas para análise da defesa de André, para posteriormente serem encaminhadas à Polícia Civil.
Segundo Mayara, também é possível provar que no dia do assalto André estava com a mãe, em casa, descansando para ir trabalhar à noite. “Apesar de todas essas provas, a gente não sabe mais o que fazer para tirar o André da cadeia. Isso é uma injustiça. No momento da prisão, André estava em casa”, diz a companheira.
Para lidar com a prisão do filho, Dona Elizete vive à base de calmantes. A mãe lembra que o André batalhou para conseguir emprego em razão da discriminação com ex-presidiários. Quando conseguiu um trabalho com carteira assassinada, ele foi preso em regime fechado.
“Meu filho não é ladrão. Como podem condenar uma pessoa a sete anos de reclusão se ele sequer é ladrão? Eu vi o André panfletando os currículos. Conseguiu um emprego digno e pretendia abrir uma loja mais pra frente. Agora eu vejo meu filho chorando e dizendo ‘mãe, todo mundo sabe que não fui eu. Até os policiais sabem’ e meu coração de mãe se despedaça”, desabafa.
Silvia assumiu a defesa de André recentemente e adiantou, à reportagem, que entrará com um pedido de reconsideração da decisão da justiça. Na luta para provar a inocência do filho, Dona Elizete diz que quando ele for solto pretende continuar divulgando a história para que o mesmo não aconteça com outros jovens.
A agência Alma Preta entrou em contato com a assessoria de imprensa da Polícia Civil do Rio de Janeiro para saber um posicionamento sobre o caso do acusado. Até a publicação desse texto, não houve resposta.
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