No dia 14 de março, próximo domingo, o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completa três anos. Um dossiê lançado, 1.094 dias depois do crime, traz detalhes sobre o caso que ganhou repercussão mundial e levanta questionamentos ainda sem respostas como quem é o mandante da execução e qual foi a motivação.
“As investigações do caso resultaram em inúmeras operações policiais, envolvendo uma ampla rede de criminosos do Rio de Janeiro, e que levou a mais de 65 prisões até hoje”, aponta a publicação, que construiu uma linha do tempo com informações sobre a investigação e lembranças da luta por justiça que marca a execução da parlamentar e do motorista.
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Segundo o documento elaborado pelo Instituto Marielle Franco, o maior objetivo é apresentar, de forma sistematizada, as questões mais importantes referentes ao caso, considerado “não apenas um marco em termos de violação de direitos humanos” como também “um atentado contra a democracia brasileira”.
A publicação diz que o crime foi marcado por fake news, fomento a violações de direitos humanos e investigações que envolvem um governo federal eleito “com incentivo aos discursos de ódio e desinformação”, se referindo à gestão de Jair Bolsonaro.
14 perguntas sem respostas
As 14 perguntas levantadas no documento partem do cotidiano de diversos ativistas de direitos humanos, da imprensa, de parlamentares, familiares e amigos de Marielle e Anderson. “Outros homicídios e crimes como tráfico de armas e extorsões foram esclarecidos, mas a pergunta de quem mandou matar Marielle e por quê segue sem respostas e com contornos cada vez mais confusos”, registra o dossiê.
“Por que ainda não se avançou na investigação sobre a autoria intelectual do crime?”, “Quem desligou, como e a mando de quem as câmeras de segurança do trajeto que Marielle e Anderson percorreram não estavam funcionando?”, “Por que o governo brasileiro não forneceu todas as informações demandadas pelo Alto Comissariado de Direitos Humanos das Nações Unidas?” e “Por que houve tantas trocas no comando da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, responsável pela investigação do caso Marielle?” são alguns dos questionamentos.
Foto: Fábio Motta
Legado de luta
Nesses três anos da morte da ex-vereadora do PSOL, mulheres negras de diferentes regiões do país têm se esforçado para manter vivo o legado de luta pelas populações mais vulneráveis, bandeira levantada por Marielle na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Parte dessa mobilização ocorreu no cenário da política partidária.
Em 2020, ano em que a ex-vereadora completaria seu primeiro mandato, foram eleitas 53 mulheres pela sigla PSOL nas câmaras municipais de todo o país, entre elas Thais Ferreira, no Rio de Janeiro, e Erika Hilton, em São Paulo.
Ainda em 2018, meses após o assassinato, se elegeram como deputadas estaduais Dani Monteiro, Renata Souza e Mônica Francisco, no Rio de Janeiro. Já em São Paulo, por exemplo, foi eleita como deputada estadual Erica Malunguinho. Em escala nacional, também se elegeram as deputadas federais Talíria Petrone (RJ) e Áurea Carolina (MG). Todas elas também pelo PSOL.
Foto: Acervo Marielle Franco
O Instituto Marielle Franco, por sua vez, foi criado em outubro de 2018 pelos familiares da ex-vereadora com o “intuito de seguir defendendo a memória, multiplicando o legado, regando as sementes e lutando por justiça”. Na direção da organização está Anielle Franco, irmã da vítima e que também tem se comprometido a manter de pé as lutas defendidas pela ex-vereadora.