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Como parte do Movimento Negro reagiu ao discurso de Lula?

Ex-presidente fez um discurso alinhado com as principais preocupações da população como os efeitos da pandemia na economia, que também coincidem com as demandas de setores do Movimento Negro organizado

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Sindicato dos Metalúrgicos do ABC

Lula

11 de março de 2021

Temas que fazem parte das reivindicações do Movimento Negro organizado foram tocados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante discurso em 10 de março. A coletiva de imprensa ocorreu após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular as condenações contra Lula, o que o tornou elegível novamente.

No discurso, Lula, de 75 anos, falou sobre problemas que o país atravessa e que preocupam a população, como os efeitos da pandemia na economia. Nesse ponto ele acertou, segundo Regina Lucia dos Santos, da coordenação estadual do Movimento Negro Unificado (MNU) de São Paulo.

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“A parte sobre economia é de grande relevância. O desemprego, por exemplo, afeta uma maioria de pessoas negras e periféricas. O aumento da miséria e da fome afetam diretamente os negros. Ele acertou ao dizer que precisa aumentar os investimentos, incentivar o mercado consumidor, melhorar o capital produtivo é uma esperança para o povo negro”, avalia.

Para Regina, também foi positivo o posicionamento do ex-presidente contra as políticas de armamento e ao citar diretamente o genocídio dos jovens negros. “Achei que ele falou de uma forma incisiva que o mercado não precisa temer as políticas que estão em seus planos para o campo social. Por outro lado, o Movimento Negro organizado precisa se posionar para que esse discurso se materialize em propostas nos debates que deverão acontecer na frente ampla que deve ser criada”, explica.

A militante observou que a fala de Lula foi alinhada com o que os debates de ativistas negros têm proposto nos últimos dois anos, desde a posse do presidente Jair Bolsonaro, em janeiro de 2019. “Ele se posicionou preocupado com as coisas que nos afetam. Podem parecer generalistas, mas se olhar os números da pandemia e da crise econômica, veremos que os negros morrem mais, passam mais fome e estão expostos à violência”, salienta Regina.

Por sua vez, o educador Douglas Belchior, da UneAfro Brasil, organização que compõe a Coalizão Negra por DireitoS, destaca que a fala de Lula foi direta em pontos cruciais e aponta para uma evolução de uma visão racial, porém ainda precisa de uma aproximação com as demandas da sociedade sobre as tensões raciais.

“Lula é um líder popular que sempre será uma opção nas eleições por ser um estadista e um democrata. No entanto, do ponto de vista do debate racial, ele não foge muito do que é a média de aprofundamento da esquerda. Tem limitações que ele próprio reconhece e diz que está lendo mais sobre o tema. Ele precisa conhecer mais sobre a contribuição do movimento social negro para a Justiça no nosso país e o acumulo de conhecimento das lideranças negras históricas, que foi importante para a construção do campo progressista no Brasil e os partidos de esquerda”, considera.

De acordo com o educador, a contribuição do Movimento Negro Organizado é fundamental para entender a realidade do Brasil. “É o caminho também para chegar nas soluções. Não há nenhuma política de Justiça social que pode ser feita sem um profundo recorte racial, visto que é demanda primeira da sociedade. O racismo estrutura as relações políticas do país gerando os problemas e a desigualdade”, reforça Belchior.

Sobre o trecho do discurso de Lula a respeito do desarmamento da população, a militante Simone Nascimento, do MNU, reparou que o ex-presidente deveria ter feito um aprofundamento na proposta. “Ele disse que era para desarmar a população e armar a polícia. Faltou aí um avanço do debate sobre Segurança Pública, que precisa muito ser debatido com o movimento negro organizado. Sabemos que a violência policial e a brutalidade são ferramentas do Estado contra a população negra e o genocídio dos jovens negros”, pondera.

Embora Lula já seja apontado como o principal adversário de Bolsonaro na disputa eleitoral de 2022, o ex-presidente não foi inocentado das acusações feitas pelo ex-juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato. A decisão de anulação do ministro Fachin retirou a competência de julgamento da esfera estadual, do Paraná, para a federal, em Brasília. A suspensão de atual do ex-ministro da Justiça, Moro, também tramita no STF.

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