Há poucos dias de o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes completar três anos, a pergunta mais importante ainda não foi esclarecida: quem foi o mandante do crime, que ficou conhecido como um atentado à democracia. O inquérito policial, em sua totalidade, corre em segredo de justiça e há informações de que a Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro trabalha com a tese de um complô entre intermediários e mandantes. A hipótese de investigação é uma vingança ao PSOL.
Segundo reportagem da Veja, passados quase 36 meses da dupla execução, os investigadores buscam comprovar e documentar as relações entre os nomes envolvidos, sob sigilo. Apenas em 2021 mais de 100 diligências foram realizadas na tentativa de reunir provas. Ainda não há data para a conclusão do trabalho.
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Os únicos réus do crime são o PM reformado Ronie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz, denunciados pela polícia e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como, respectivamente, o atirador e o motorista do carro que se aproximou do veículo da ex-vereadora e a matou junto com o motorista dela. Os acusados estão presos em presídios separados a fim de evitar qualquer prejuízo à investigação.
No mês passado, Lessa apontou como executor do crime o miliciano e ex-capitão do BOPE (Batalhão de Operações Especiais), Adriano Magalhães da Nóbrega. O policial era chefe de uma quadrilha de milicianos e assassinos de aluguel conhecida como “Escritório de Crime”. Os criminosos atuavam sob encomenda de políticos, bicheiros e contraventores. Nóbrega foi morto em fevereiro de 2020 durante uma operação policial na Bahia e as circunstâncias ainda não foram totalmente esclarecidas.
Em 2008, a CPI das Milícias, presidida pelo então deputado estadual Marcelo Freixo, também do PSOL, indiciou 226 pessoas no Rio de Janeiro, entre deputados, vereadores e policiais militares. Na época, Marielle era assessora de Freixo e não atuava na comissão. No início de dezembro de 2020 veio à público a informação de que dois milicianos do Escritório do Crime se filiaram ao PSOL em 2016, mesmo ano em que Marielle foi eleita vereadora do Rio. Segundo a polícia, eles teriam se infiltrado na legenda para monitorar agendas e eventos. A dupla foi expulsa do partido após a repercussão.
Março pro Marielle
O Instituto Marielle Franco, criado pela família da ex-vereadora, realiza durante este mês uma série de ações para marcar os três anos do crime ocorrido em 14 de março de 2018. O objetivo é visibilizar o legado e memória de Marielle e pedir por justiça.
“Há três anos que o mês de março é um marco muito forte para nós, da família, mas também para todas aquelas e aqueles que continuam na luta por justiça e para que mais nenhuma mulher negra, LGBTQIA+ e periférica seja interrompida”, pontua Anielle Franco, irmã de Marielle e diretora executiva do instituto.
As ações se voltam à compilação da investigação do caso, incidência sobre as autoridades competentes, intervenções pela cidade e o protocolo de projetos de lei relacionados à atuação da ex-vereadora e ao tema da violência política. As informações completas sobre serão divulgadas ao longo do mês.
“São três anos sem respostas para um dos maiores casos de violência política no Brasil, na América Latina e no mundo. Seguiremos cobrando estas respostas do Ministério Público, do governo de Estado e do governo federal: queremos transparência nas investigações e prioridade sobre a elucidação deste caso tão importante para a democracia brasileira. E seguiremos, por muitos anos, inspiradas pela luta de Marielle, fazendo ecoar sua trajetória e regando as suas sementes para as novas gerações”, finaliza Anielle.