‘Solaninho’: infância de Solano Trindade inspira espetáculo infantil no Rio

montagem leva à cena o resultado de uma investigação dos primeiros passos de Solano Trindade com muita ludicidade, numa encenação vibrante que conta com a tradição dos bonecos mamulengos
Elenco do espetáculo infantil "Solaninho".

Elenco do espetáculo infantil "Solaninho".

— Divulgação/Thaysa Lota

12 de abril de 2025

Levar a palavra poética de Solano Trindade aos pequenos é o objetivo do espetáculo infantil inédito “Solaninho – Uma viagem com o Poeta do Povo”, formado por poesias e narrativas negras para crianças e que estreia no dia 19 de abril, às 16h, no Sesc Tijuca, no Rio de Janeiro.

A apresentação é encenada por elenco do Complexo Negra Palavra e conta com dramaturgia de Renato Farias, que divide a direção artística com Lucas Sampaio, e tem sua direção musical e percussão corporal assinadas por Muato. Integrando a montagem estão os bonecos mamulengos, artifício cultural do estado de Pernambuco, onde Solano nasceu, amparados pela consultoria de Cultura Tradicional de Sandro Roberto, discípulo de ilustres mestres mamulengueiros.

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Na história, o jovem Ton, aos 23 anos, chega ao Òrun, e é recebido festivamente pelo velho Solano Trindade. Depois de um tempo, Ton se dá conta que não teve tempo de se despedir da vida no Àiyé. Solano percebe que Ton se entristece e propõe um retorno ao Pernambuco de sua infância. Ton se ilumina com a ideia.

Assim, ambos magicamente retornam a seus corpos de criança: Solaninho e Tonzinho. E são eles que vão percorrer as festas e feiras, cantigas e canções, encontrar personagens familiares de ambos para, ao fim da jornada, retornarem ao Òrun. Ton retorna mais feliz após ter vivido junto com Solaninho uma outra possibilidade de infância. Ambos retomam a festa inicial e celebram as etapas e os ciclos que compõe a finitude da vida.

Infância do Poeta do Povo

Com uma dramaturgia que bebe nas vivências da infância do Poeta do Povo, um dos maiores poetas brasileiros do século XX cuja obra vem sendo redescoberta após um longo período de apagamento, a peça coloca em cena as corporeidades e sonoridades populares, como o multiartista fazia. Guiado pelos seus poemas, a cena desvenda seus primeiros passos, as primeiras canções de ninar, as cantigas da infância, os outros membros da família e toda a ludicidade do entorno das crianças. Afinal, a infância é o período de construção de imaginários que vão nos acompanhar por toda a vida. 

“A dramaturgia do espetáculo não quer subestimar as crianças. Ao mesmo tempo que estimula uma encenação vibrante, musical, colorida, festiva, investe em diálogos e interpretações que fogem de estereótipos e simplificações. Buscamos respeitar a grande inteligência das crianças que, infelizmente, vai sendo combatida na medida em que vamos amadurecendo. Dentro das culturas africanas e ameríndias encontramos outras formas de relação com os ciclos da vida”, pondera Renato Farias, sinalizando que a morte, assunto presente na cena, está diretamente associada à vida e deve ser revestida de naturalidade. 

A questão se dá no próprio enredo do espetáculo, revisitando um fato trágico ocorrido com o ator Ton Torres que, em 2017, foi brutalmente assassinado. A montagem pretende reescrever essa história.

“Revisitamos poeticamente seu desaparecimento criando um encontro entre Ton e Solano Trindade no Orun, o lugar onde moram os Orixás e nossos ancestrais. No lugar do sofrimento e da perda, queremos reverenciar a memória de Ton e exaltar sua passagem pela terra. Acreditamos que ressignificar essa dor, enquanto ainda estamos lutando por justiça, é encontrar um caminho de cura, ao mesmo tempo, individual e coletivo para todos os integrantes do Complexo Negra Palavra”, frisa Renato. 

Na peça, Ton Torres é interpretado pelo irmão Adriano Torres que, assim como os demais colegas de cena, não teve referências de poetas negros nas suas infâncias. Faz pouco tempo que, ao conhecer a obra de um poeta negro, Adriano compreendeu que também poderia escrever poesia.

Durante muito tempo o racismo estrutural apresentou social e culturalmente as pessoas negras apenas a partir de referências subalternas e, na maioria das vezes, sem aprofundamento psicológico ou afetivo. Isso vem se transformando aos poucos e o teatro infantil é um espaço privilegiado para cultuar o empoderamento e a autoestima dos pequenos. 

SERVIÇO

Temporada: 19 de abril a 18 de maio de 2025

Horário: Sábados e Domingos às 16h

Apresentações Extras: dias 25 de abril, 09 de maio e 16 de maio (sextas-feiras)

Ingressos: R$ 5 (associado do Sesc), R$ 10 (meia-entrada), R$ 20 (inteira), Gratuito (PCG)

Local: Sesc Tijuca – Teatro 1

Endereço: Rua Barão de Mesquita, nº 539 – Tijuca, Rio de Janeiro

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