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Dia do Rock: Conheça cinco artistas negros que definiram o gênero

13 de julho de 2016

Entre os anos 50 e 60 artistas e bandas negras movimentaram no cenários musical nos EUA com inovações capazes de transcender o jazz e o blues para tomar o mundo. O Rock ‘n’ Roll negro iniciou um dos ciclos hegemônicos mais importantes da história da música pop no mundo. O Alma Preta selecionou cinco dos principais artistas do gênero.

Texto e imagem / Vinicius Martins

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O presidente da Sun Records Sam Phillips tinha uma ambição: apresentar a América branca à música negra. “Se eu pudesse encontrar um homem branco que tivesse o som negro e o feeling negro, eu poderia fazer um bilhão de dólares”, teria dito Phillips. Ele sempre negou essa declaração publicamente, ainda assim, seus objetivos se concretizaram.

O mandatário da Sun Records foi o homem que descobriu Elvis Presley: um jovem branco de Tupelo (Mississippi) que transformou-se no suposto Rei do Rock. Uma das figuras que garantiram que o gênero tomasse os Estados Unidos e o resto do mundo a partir de um país racialmente segregado e que por muito tempo odiou o rock ‘n’ roll, o blues e o jazz criado e feito pela população negra daquele lugar.

A crescente popularização desses gêneros entre o público branco e jovem dos EUA abriu espaço para artistas brancos como Jerry Lee Lewis, Bill Haley, o próprio Elvis, entre outros. A industria viu um caminho para eles e lucrou seus bilhões. Mas o que aconteceu com Chuck Berry, Bo Didley, Sister Rosetta Tarpe, Jimi Hendrix, Black Merda e tantos outros artistas e bandas negras que criaram o rock ‘n’ roll de maneira inovadora desde os anos 50?

Mais de meio século depois, o rock é visto como um gênero branco. Há pouca identificação das populações negras ao redor do mundo com o estilo. Apesar disso a história feita nos guetos norte-americanos deixou um legado incrível para a música.

Hoje, 13 de julho, no dia do rock, selecionamos cinco artistas negros que definiram o rock ‘n’ roll e garantiram a hegêmonia do gênero por mais de 40 anos.

A mãe do Rock ‘n’ Roll

Rosetta Nubin, conhecida como Sister Rosetta Tharpe, nasceu há 102 anos atrás. E antes que qualquer um pudesse imaginar Chuck Berry tocando sua guitarra como se tocasse uma campainha, Rosetta já dominava de forma exemplar o rock ‘n’ roll em sua Gibson SG branca, acompanhada de letras e refrões dedicados a Deus e à Igreja.

A Mãe do Rock ‘n’ Roll era a exceção em uma época em que pouquíssimas mulheres podiam tocar guitarra. Começou sua carreira aos quatro anos de idade, influenciada pelo jazz e pelo blues produzido pelos afroamericanos. Sua aproximação com a igreja vem desde cedo e influenciou diretamente sua obra.

Quando gravou seus primeiros registros enfrentou diversas críticas por misturar música sacra com ritmos até então atrelados ao pecado e ao diabo e por incentivarem danças mais sensuais do que permitia a época. Em 1944, lançou a música “Strange Things Happening Every Day”, considerada por muitos a primeira gravação da história do rock ‘n’ roll.

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Diz a lenda que na primeira aparição dos Beatles nos Estados Unidos, em 1964, a coisa que mais interessava o beatle John Lennon no país era Otha Ellas Bates McDaniel, conhecido como Bo Diddley, um dos pioneiros do rock ‘n’ roll americano nos anos 50.

Bo tinha uma batida única e característica em sua guitarra, chamada de “Bo Diddley Beat”. A técnica lembra o gingado da rumba e tem origem no ritmo dos tambores do oeste africano. Esse tipo de batida era identificado em muitos dos grupos de escravos sequestrados que foram levados às Américas durante o colonialismo europeu.

Proibidos de possuir seus tambores tradicionais, os cativos usavam seus corpos para produzir as batidas. Alguns registros mostram que as crianças negras também produziam o som com uma espécie de guitarra com uma corda, chamada “Diddley Bows”. Tal fato pode explicar o nome artístico de Otha Ellas.

Diddley também era conhecido como “The Originator”, por ser um dos criadores do rock ‘n’ roll nos anos 50. O músico se orgulhava do título, apesar de sempre reclamar que sua posição foi “tomada” por Elvis Presley: “eu estou cansado de todo mundo falando de Elvis. Eu e Chuck Berry criamos o rock ‘n’ roll”.

Sua música influenciou diversas músicos das gerações seguintes, desde Buddy Holly e Yardbirds até o U2.

“Se você der outro nome ao rock ‘n’ roll, você deve chamá-lo de Chuck Berry”

Chuck Berry nasceu em St. Loius, estado do Missouri, nos EUA, em 1926. Ele é o autor de canções históricas como Johnny B. Goode (não, ela não é do Martin McFly), Roll Over Bethoven, Maybellene, Sweet Little Sixteen e School Days.

É citado por muitas bandas e guitarristas como uma das maiores influências do rock, sendo um nome importante para a consolidação do gênero nos anos 50. Berry conseguiu fazer uma das misturas mais competentes de rhythm and blues e country music para produzir o rock ‘n’ roll cinquentista. Suas músicas descreviam a vida na escola, incentivavam a dança, falavam de carros rápidos e romances adolescentes.

Assassinato Negro

O rock ‘n’ roll negro não morreu nos anos 50. Apesar do crescimento do funk dentro da comunidade afro-americana, muitos músicos ainda foram influenciados pelos artistas que construíram o gênero em seu início. Considerada a primeira banda de black rock da história, o Black Merda (pronuncia Black Mur-dah, de Murder) produziu um estilo único, aliado ao jazz, ao blues, ao funk e à psicodelia.

Produto do contexto de forte embate racial dos EUA, os membros Anthony Hawkins (guitarra/vocal), Veesee L. Veasey (baixo/vocal), Charles Hawkins (guitarra/vocal) e Tyrone Hite (baterista) construíram em Detroit um rock ‘n’ roll psicodélico capaz de questionar as opressões vividas pelos negros norte-americanos e a violência racista de sua época.

Em 1970, lançaram seu primeiro álbum, influenciados pelos acontecimentos políticos e sociais e pelas principais estéticas musicais da época. Suas temáticas permanecem atuais no panorama racial dos EUA, que enfrenta a violência policial contra a população negra norte-americana. Nos últimos anos, mortes de homens afro-americanos pela polícia no país levaram milhares às ruas contra a violência policial.

Força da Natureza

Jimi Hendrix estava além de seu tempo. O maior guitarrista da história tornou-se um simbolo absoluto do rock, quando o gênero já havia se tornado um estilo branco, na década de 60. Nascido em Seattle, nos EUA, formou-se como guitarrista tocando nas bandas de apoio de artistas como Little Richard e BB King.

Jimi atingiu o sucesso ao mudar-se para Inglaterra em 1966. Uma vez em território inglês, lançou o aclamado “Are You Experienced?” em 1967, considerado um dos maiores álbuns do rock psicodélico. Chamou a atenção pela facilidade em viajar por ritmos distintos como o jazz, o blues e o funk e pelo ímpeto criativo para produzir solos de guitarra memoráveis, como nas músicas Red House, Voodoo Child e Little Wing. Com estilo espacial e moderno, há quem diga que ele é um dos grandes expoentes do afrofuturismo na música contemporênea. Certo mesmo é que Jimi deixou legado imaterial indispensável à humanidade enquanto músico, guitarrista e poeta.

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