A invasão de tropas russas à Ucrânia há uma semana alertou o mundo sobre suas possíveis consequências. Países do continente africano têm se esforçado para retirar seus cidadãos da região e demonstrado preocupação com os efeitos econômicos do conflito.
O ministro dos Recursos Minerais e de Energia da África do Sul, Gwede Mantashe, diz que a guerra na Ucrânia ameaça a economia dos países da África subsaariana, composta por outros 47 países, como Angola, Congo, Etiópia, Nigéria e Senegal
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Um dos efeitos já sentidos pelos países é o aumento do preço do petróleo. A Rússia é uma das maiores potências de produção desse combustível fóssil no mundo.
“A desoneração dos impostos sobre os combustíveis, anunciada pelo nosso governo no orçamento da semana passada, já está corroída pelos custos da gasolina”, diz o ministro sul-africano.
A África Oriental também sentirá os efeitos econômicos da guerra na Ucrânia. Segundo o professor de Filosofia Africana da Universidade Pedagógica de Maputo, José Castiano, uma das economias mais afetadas será a de Moçambique.
“Penso que o efeito vai ser mais negativo do que positivo, porque nós importamos o petróleo de outros. Quando sobe o preço do petróleo, o preço de outros produtos dispara logo. Vai ter consequências gravíssimas para Moçambique”, destaca, em entrevista ao site DW.
Também atingido pela pandemia, o setor de turismo do Egito, que começou a se recuperar há poucos meses, prevê novas dificuldades com a guerra na Ucrânia, isso porque estima-se que turistas da Rússia e da Ucrânia compõem a maior parte de seus visitantes. O primeiro-ministro do país árabe Mustafa Madbouli diz que o governo acompanha de perto a crise na Europa e suas consequências políticas e econômicas.
Outra preocupação do Egito é a importação de trigo. A Rússia e a Ucrânia são, juntas, responsáveis por 70% das importações de trigo para o Egito. Agora, com o conflito estourado, as autoridades buscam outras alternativas.
Racismo nas fronteiras
A União Africana (UA), que reúne 55 países do continente, condenou o tratamento discriminatório dispensado a africanos e afrodescendentes que tentam fugir da Ucrânia. Nos últimos dias, circularam nas redes sociais imagens de pessoas negras barradas em ônibus e trens em direção à fronteira.
Grande parte dos civis do continente africano que se encontram no país europeu são da Nigéria. Segundo o governo do país, existem 4 mil nigerianos na Ucrânia. Há décadas nigerianos e cidadãos de outros países de África viajam para lá para fazer faculdade, principalmente de Medicina.
A União Europeia (UE) e o Ministério das Relações Exteriores do Brasil não se manifestaram sobre as denúncias de racismo. Representantes do Quênia, Gana e Gabão disseram no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) no início desta semana que “esse racismo é prejudicial ao espírito de solidariedade tão urgentemente necessário hoje” e pediram a facilitação de movimentação de pessoas que fogem da Ucrânia “sem discriminação” e a prestação de assistência humanitária.
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