Missões diplomáticas de vários países africanos entraram em contato com a entidade governamental russa com pedidos de ajuda para evacuação de estudantes matriculados em universidades ucranianas. É o que apontam declarações nas redes sociais do Ministério das Relações Exteriores Russo.
De acordo com a porta-voz do Ministério, Maria Zakharova, em informações divulgadas pelo Sputnik, agência internacional de notícias lançada pelo governo russo, o órgão governamental das relações exteriores não tem informações sobre os cidadãos africanos que solicitam permissão para atravessar a fronteira das cidades de Donetsk e de Lugansk com a Rússia.
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“Ao mesmo tempo, as missões diplomáticas de alguns estados africanos aplicaram ao Ministério das Relações Exteriores russo um pedido para que se organize a evacuação de seus cidadãos, estudantes que estavam estudando nas instituições de ensino superior ucraniano”, reforçou Zakharova.
Segundo a porta-voz, a questão da evacuação dos estudantes está sendo considerada e trabalhada junto ao Ministério da Defesa da Federação Russa.
Racismo nas fronteiras
De acordo com Maurício Santoro, professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, há um número expressivo de estudantes africanos na Ucrânia, estimados em cerca de 20 mil, principalmente do Marrocos, Nigéria e Egito.
“Eles são herdeiros de uma tradição de cooperação internacional em educação que remonta aos tempos da União Soviética”, explica.
Segundo Mohammed Nadir, professor visitante de relações internacionais e Oriente Médio na Universidade Federal do ABC (UFABC), os últimos anos também têm sido marcados por uma grande expansão da Rússia e sua influência em países africanos, o que explica em partes o movimento dessas nações ao recorrerem à Rússia neste momento.
“O país tem aumentado sua influência no continente africano portanto podemos entender essa aproximação das relações entre a Rússia e África”, pontua.
Além disso, desde o início da guerra iniciado pelo governo russo, há relatos de estudantes estrangeiros não brancos que são impedidos de deixar a Ucrânia para buscar refúgio em outros países. De acordo com Maurício Santoro, o racismo se manifesta na priorização nos trens a ucranianos brancos para atravessarem as fronteiras rumo à Polônia, à Romênia ou outros países vizinhos.
“Com o espaço aéreo fechado para voos civis, a situação dos estudantes africanos é muito difícil. Por isso o apelo à Rússia, na esperança de que o governo Putin possa ajudá-los onde as autoridades ucranianas falharam”, explica o professor Santoro.
“Esse apelo é apenas para defender os estudantes africanos para que eles possam sair e tenham seus direitos preservados”, reforça Mohammed Nadir.
Na última quinta (03), a Rússia e a Ucrânia também concordaram na criação de um corredor humanitário para a evacuação de civis das zonas de guerra. “Até agora esse foi o gesto mais importante tomado pelo governo russo no que toca às questões humanitárias nesse conflito”, finaliza Maurício Santoro.
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