O governo da República Democrática do Congo (RDC) e o grupo M23 anunciaram, na quarta-feira (23), um compromisso conjunto para cessar as hostilidades no leste do país. A decisão foi comunicada em declaração conjunta lida na emissora estatal congolesa e divulgada também por um porta-voz do M23. A trégua deve vigorar durante as negociações em curso e até sua conclusão definitiva.
O anúncio representa uma reviravolta na postura oficial de Kinshasa. O presidente Félix Tshisekedi vinha se recusando a dialogar diretamente com o grupo rebelde, a quem acusa de agir como representante dos interesses de Ruanda.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
A mediação do Catar, iniciada em abril, resultou no encontro entre Tshisekedi e o presidente ruandês Paul Kagame, que manifestaram apoio a um cessar-fogo em reuniões realizadas em Doha.
Conflito de longa duração
A região leste da RDC é marcada por instabilidade há mais de três décadas. O grupo M23, que retomou suas ações armadas em 2021, tem ocupado territórios importantes nos arredores das cidades de Goma e Bukavu. Especialistas da ONU e governos ocidentais afirmam que o grupo recebe apoio militar do governo de Ruanda, acusação que Kigali nega. Recentemente, um enviado dos Estados Unidos solicitou que Ruanda retire suas forças do território congolês.
A atual declaração é a mais recente de uma série de tentativas de cessar-fogo. Desde 2021, pelo menos seis acordos anteriores falharam. O novo compromisso, entretanto, ocorre em um contexto de maior envolvimento internacional, especialmente da diplomacia do Catar, que também mantém acordos econômicos com a RDC e Ruanda, incluindo um investimento de mais de um bilhão de dólares em infraestrutura aeroportuária em Kigali.
Apoio internacional e novos encontros
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Catar, Majed Al-Ansari, afirmou que o governo do país saudou o anúncio e encorajou as partes a seguir em direção a um acordo permanente que atenda às aspirações do povo congolês por paz e desenvolvimento.
Segundo uma fonte com conhecimento direto das negociações, as conversas em Doha foram consideradas construtivas e abriram caminho para uma nova rodada de discussões nas próximas semanas.
Enquanto isso, Ruanda continua a negar envolvimento militar no conflito, mas reforça preocupações com milícias Hutu na RDC, ligadas ao genocídio de 1994 no país. Os Estados Unidos já pediram a retirada de tropas ruandesas do território congolês.