PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
Pesquisar
Close this search box.

Países da África pedem indenização por colonização europeia e devolução de objetos roubados

gitega_museum_ok

14 de setembro de 2020

Burundi, por exemplo, solicitou aos antigos colonizadores, Alemanha e Bélgica, 36 bilhões de reais pelo período de exploração

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Reprodução

Quer receber nossa newsletter?

Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!

Burundi, pequeno país da região central da África, anunciou que vai solicitar a seus antigos colonizadores, Alemanha e Bélgica, uma indenização de 36 bilhões de euros ― cerca de R$ 225 bilhões ― e a devolução de objetos roubados. De acordo com informações do El País, um grupo de especialistas composto por historiadores e economistas trabalhou desde 2018 para avaliar os danos econômicos sofridos pelo país durante o período colonial (1890-1962). Com base nesse relatório, o governo burundês prepara uma queixa formal, conforme anunciou o presidente do Senado local, Reverien Ndikuriyo.

Os acadêmicos burundeses levaram em conta não só “os trabalhos forçados” e as penas “desumanas, cruéis e degradantes” impostas à população local durante a colonização, como também as consequências das políticas colonizadoras em longo prazo, com efeitos posteriores à independência. Especialmente, o decreto de 1931, que classificou a população em três grupos étnicos e é considerada a semente dos massacres e da guerra civil (1993-2005), que assolaram Burundi depois da sua independência, em 1962, informa o periódico.

Durante e depois da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha perdeu todas as suas colônias, e Burundi passou às mãos belgas em 1917. Foi nesta segunda etapa de domínio que a Bélgica, muito mais ativa, instaura a categorização dos colonizados segundo sua etnia: hutu, tutsi ou twa. Isso é aplicado tanto em Burundi como em Ruanda, país vizinho, em uma clivagem étnica que é apontada como a origem dos conflitos atuais: o genocídio de Ruanda (1994), as guerras no Congo e os massacres e guerra civil em Burundi.

As reivindicações para que os países europeus administrem a herança colonial são crescentes, mas nos últimos 10 anos houve apenas gestos simbólicos como a devolução de alguns objetos (uma espada restituída ao Senegal, e uma bíblia e uma chibata à Namíbia), alguns pedidos de desculpas (de Reino Unido, Bélgica e Itália) e uma só indenização (os R$ 144 milhões ao povo mau-mau, no Quênia, pagos pelo Reino Unido).

Tanzânia e Namíbia

A Tanzânia também aumenta a pressão sobre o governo alemão para que assuma a responsabilidade por crimes de guerra cometidos durante o período colonial na África Oriental, informa a agência de notícias Deutsche Walle (DW). No rol de ações brutais estariam o massacre de vários grupos na Revolta de Maji-Maji. O embaixador tanzaniano em Berlim, Abdallah Possi, lançou um apelo no início de 2020 para “negociar reparações”.

O diretor do Museu Nacional da Tanzânia, Achilles Bufure, considerou que essas negociações são urgentes. Como tem especial interesse no acervo cultural do país, Bufure está também preocupado com a devolução de inúmeras obras de arte e bens roubados.

A Alemanha negocia com a Namíbia um pedido formal de desculpas. Representantes dos hereros e namas exigem compensações financeiras e recentemente consideraram inaceitável uma alegada proposta de 10 milhões de euros do governo alemão.

Quênia, Líbia e Congo

O Reino Unido, no entanto, agiu por ordem judicial. Em 2013, depois de perder nos tribunais britânicos, teve que indenizar 5 mil sobreviventes quenianos, além do primeiro pedido de perdão. A Itália anunciou em 2008 um “pacto de amizade” com a Líbia, no qual pediu desculpas “pelos assassinatos, destruição e repressão contra os líbios durante o governo colonial” e se comprometeu a pagar US$ 200 milhões por ano, durante 25 anos, como indenização. Mas o dinheiro do acordo entre Muamar Gaddafi e Silvio Berlusconi na verdade estava destinado à luta contra a imigração irregular, e o pacto se rompeu com a queda do ditador líbio, em 2011.

A França, que continua exercendo influência sobre seus antigos territórios no âmbito econômico, político e militar, anunciou em 2018 que começaria a devolução de 90 mil obras de arte africanas expostas nos museus franceses. Só a partir de julho, quando houve uma mudança legislativa, se tornou possível executar o que foi anunciado.

Em 2018, o Museu Real da África Central em Tervuren, na periferia de Bruxelas, reabriu as portas como Museu África, após seis anos de reformulação para poder apresentar uma “uma visão crítica” sobre o passado colonial. As críticas continuaram já que as peças expostas foram roubadas por missionários e militares durante a época colonial, além da lembrança de que seres humanos foram expostos no começo do século passado nos mesmos museus.

No fim de junho, o rei Philippe, em um reconhecimento histórico e como presente pelos 60 anos de independência da República Democrática do Congo, apresentou um pedido público de desculpas e manifestou o “profundo remorso” pelo passado colonial naquele país, duas semanas depois de estátuas de Leopoldo II serem atacadas na Bélgica durante uma onda de protestos. 

Leia Mais

PUBLICIDADE

Destaques

AudioVisual

Podcast

papo-preto-logo

Cotidiano