A morte do presidente do Haiti, Jovenel Moïse, de 53 anos, dentro da residência oficial do governo causou repercussão nacional e internacional diante da crise política e violenta que o país tem enfrentado desde as eleições de 2015, quando o ex-presidente Michel Martelly deixou o poder. Mas para entender o cenário do país é preciso contextualizar quem foi Jovenel.
Nascido em Trou-du-Nord, uma comuna do Haiti, Jovenel Moïse atuava como empresário no ramo de produção de bananas antes de entrar para a vida política. Foi o seu sucesso com a empresa, instalada na capital Porto Príncipe, que lhe rendeu o apelido de “O homem da banana”, tendo a sua área de plantação como uma das maiores do país.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Com ideias para o desenvolvimento agrícola e distribuição de água potável no Haiti, em 2001, ele firmou uma parceria com a empresa americana especialista em tratamento de água Culligan e inaugurou uma sede de distribuição nas regiões Nordeste e Noroeste do país. Também no ramo empresarial, ele também montou, junto com sócios, projetos para fornecer energia elétrica nas regiões.
Foi em meados de 2012 que Jovenel Moïse, já firmado no ramo de negócios, passou a ter contato com o antecessor Michel Martelly. Em 2015, Martelly nomeia Moïse como representante pelo seu partido, o Tet Kale (PHTK), após deixar a disputa eleitoral sob acusação de fraude.
Foi em meio ao conturbado processo eleitoral que o sucessor de Martelly, Moïse, desbancou outros 26 candidatos e conquistou 55% dos votos pelo segundo turno, em fevereiro de 2017. Apesar da nomeação, Jovenel não conquistou a popularidade no Haiti e chegou a ser acusado de corrupção, fato que desencadeou manifestações na capital e cidades haitianas.
Opositores também acusavam Moïse de autoritarismo e centralização de poder. No texto da primeira proposta de Constituição, Jovenel propôs a possibilidade de reeleição, que é proibido no país desde o final da ditadura e repressão política do governo do ex-presidente François Duvalier, em 1986.
Além disso, partidos de oposição também acusavam Moïse de se filiar com gangues para permanecer no poder. Para a população, ele deveria ter deixado o cargo no início de 2021, período de cinco anos permitido para permanecer na presidência. No entanto, Jovenel se recusava a deixar a chefia do país sob alegação de que o mandato terminaria em fevereiro do próximo ano e governava sob decreto desde 2020, já que as eleições de 2019 foram adiadas.
Com a pressão dos protestos e as insatisfações com o governo, em fevereiro deste ano, Moïse anunciou que uma tentativa de golpe de Estado e da morte dele havia sido desarticulada pelo governo. Ele atribuiu o atentado a um grupo de famílias e empresários que tentavam tirá-lo do poder.
“Meu mandato começou em 7 de fevereiro de 2017 e termina em 7 de fevereiro de 2022. Entregarei o poder ao seu proprietário, que é o povo do Haiti. Os oligarcas corruptos, acostumados a controlar presidentes, ministros, Parlamento e Poder Judiciário pensam que podem tomar a presidência, mas só existe um caminho: eleições”, disse o presidente haitiano em uma entrevista ao El País, em fevereiro deste ano.
Além da crise política, o Haiti enfrentou desastres naturais, como um terremoto em 2010 que matou mais de 200 mil pessoas, e a situação precária da pandemia da covid-19, no qual o país ainda não vacinou nenhum dos 11,26 milhões de habitantes.
Assassinato
Em comunicado divulgado pelo primeiro-ministro interino do país, Claude Joseph, a casa oficial do presidente foi invadida na madrugada desta quarta (7), por um grupo que se apresentou como agentes da Agência Antidrogas dos Estados Unidos, a DEA, e simularam uma operação na residência de Jovenel Moïse e atirou no presidente. A primeira dama Martine Moise também foi atingida, chegou a ser socorrida para um hospital, mas não resistiu.
Ainda não há detalhes sobre a motivação do assassinato. Em comunicado, o governo do Haiti disse que “todas as medidas são tomadas para garantir a continuidade do Estado e proteger a nação”.
Leia também: Conflito na Palestina tem semelhanças com Apartheid da África do Sul