Com mais de 300 mortos e 400 feridos, ataques na Somália são os mais letais desde o atentado de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos; comunidade internacional aponta preocupação humanitária e e negligência com países africanos
Texto / Solon Neto
Imagens / Mohamed Abdiwahab/AFP – Farah Abdi Warsameh/AP – Feisal Omar/Reuters – EPA/Said Yusuf Warsame – Washignton Times
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No sábado, 14/10, a Somália sofreu seu maior atentado terrorista, um dos mais letais atentados já registrados no mundo. Pelo menos 302 pessoas foram mortas e 400 ficaram feridas após a explosão de caminhões-bomba em um mercado e em um Hotel, na capital do país. Ainda não se sabe quem foi o autor dos ataques, mas as autoridades acreditam que tenha sido o Al-Shabaab, grupo ligado à Al-Qaeda que promove diversos ataques no país desde 1991.
A cidade de Mogadíscio tem cerca de 2,5 milhões de habitantes e abriga mais de um terço da população do país, que soma 6,7 milhões de pessoas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ao menos 5 milhões de pessoas na Somália precisam de ajuda humanitária. Cerca de 3,3 milhões de somalis não têm acesso a serviços de emergência e precisam de melhorias em serviços básicos como água, saneamento básico e acesso a produtos de higiene.
O atentado de grandes proporções fez com que pessoas do mundo todo lembrassem o descaso com que os países africanos são tratados no noticiário, em comparativo com atentados em países europeus.
Segundo o Global Terrorism Index de 2016, entre os dez países mais afetados pelo terrorismo no mundo no período de um ano, quatro eram africanos. Dentre eles, a Somália foi o segundo país mais afetado, atrás apenas da Nigéria. Nenhum país de maioria branca figura entre os dez primeiros colocados.
O Alma Preta preparou uma lista com 10 fatos acerca do atentado.
1. A morte de pelo menos 315 pessoas torna o atentado na Somália o maior desde 11 de setembro de 2001, quando pelo menos 3.278 pessoas foram mortas em Nova Iorque, nos Estados Unidos.
2. O ranking de países mais afetados pelo terrorismo de 2016 colocou a Somália como segundo país da África e o sétimo país do mundo com mais problemas dessa natureza. Segundo o documento, 80% das mortes causadas por terrorismo no mundo acontecem em apenas 8 países: Iraque, Afeganistão, Nigéria, Síria, Iêmen, Paquistão, Egito e Somália.
3. Atos de solidariedade foram anunciados por algumas nações. O Quênia ofereceu ajuda humanitária ao país e receberá 31 feridos na capital Nairobi, além de enviar medicamentos. Já a Turquia, um dos primeiros países a se manifestar, receberá 35 feridos na cidade de Ankara, enviando ao país africano médicos e materiais.
4. Um protesto nas ruas de Mogadíscio reuniu milhares de pessoas nesta quarta feira, 18/10. Os protestantes que se dirigiam aos locais de ataques foram recebidos a tiros e foram impedidos pela polícia local e pelas forças da União Africana, que mantém 22 mil soldados no país. Pelo menos três pessoas ficaram feridas, incluindo uma grávida. A presidência da Somália declarou luto por 3 dias devido ao atentado.
5. A África é o segundo continente com mais atentados terroristas no mundo. Entre os 10 países mais afetados, 4 são africanos e 6 são asiáticos, sendo 4 do Oriente Médio, além de Índia e Paquistão.
6. Em Janeiro, outro Hotel da cidade também sofreu um ataque terrorista. A ONU acredita que o atentado do começo do ano tenha sido uma tentativa de inviabilizar o processo eleitoral no país. O Hotel Dayax era frequentado por legisladores nacionais e fica próximo ao palácio presidencial. Pelo menos 20 pessoas morreram no atentado. Até Abril, mais outros três atentados já haviam sido registrados no país.
7. A Somália vive instabilidade política em seu território desde 1991. À época, com a queda da ditadura de Muhammad Siad Barre, milícias islâmicas passaram a disputar o controle do país, respondendo a interesses próprios. Entre os grupos, está o Al-Shabbab, considerado o provável autor dos atentados de Mogadíscio.
8. A crise no país é grave e tem várias dimensões. Há questões como o separatismo, como no caso da Somalilândia, porção do território que quer independência. Também há a instabilidade que atrapalha a ajuda a chegar ao país. Pesquisadores relatam que há dificuldades para obtenção de dados no país devido à insegurança. Um exemplo é o do Mapa da Fome feito pela FAO, que não consegue reunir dados suficientes sobre a Somália. A fome é outro problema. Em 2011, a ONU chegou a declarar situação de emergência devido à fome no país e este ano lançou um pacote com milhões de dólares em ajuda humanitária. A organização também relata que a juventude é muito afetada pela fome e guerra, causando desnutrição e recrutamento de crianças para tropas nacionais e também terroristas.
9. O país da costa leste africana fica na região conhecida como Chifre da África. Essa região é considerada estratégica devido às rotas comerciais marítimas que atravessam o canal entre África e Oriente Médio. Estados Unidos e China têm bases militares na região que trabalham para garantir a segurança dessas rotas, mesmo assim, ataques de piratas somalis são comuns.
10. A Somália tem uma das maiores taxas de fertilidade do mundo. Segundo o World Factbook da CIA, o país é o quarto colocado do mundo nesse quesito. Em média, segundo o ranking mencionado, o ano de 2016 registrou uma taxa de fecundidade de 5,89 crianças por mulher no país, o que aponta para a expectativa de filhos que cada mulher deverá ter ao longo da vida. Os nove países que lideram esse ranking são africanos, o que faz da África o continente com a maior taxa de natalidade do planeta. A juventude é um dos grupos sociais que mais sofre com a instabilidade da Somália.