O diálogo com a base, a importância de novas redes e a segurança dos militantes foram tópicos do Seminário; “Não podemos criar um terror paralisante, mas não podemos permitir que as ideias dominantes nos ataquem”, diz Luciana Araújo, Movimento Negro Unificado
Texto / Beatriz Mazzei
Imagem / Quilombação
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O 5º Seminário Nacional da Rede Antirracista Quilombação reuniu militantes e intelectuais para discutir a nova conjuntura política do país e as frentes de atuação da luta pelo povo negro no cenário que se desenha para os próximos anos. O evento aconteceu na Ação Educativa, região central de São Paulo, no dia 15 de Dezembro.
Na carta aberta oficial do Seminário, a Rede Quilombação coloca que os mecanismos de contenção, repressão e de extermínio programado da população negra tendem a se intensificar com a eleição do presidente que assume o poder ano em 2019: “Foi eleito um candidato que defende abertamente o aumento da repressão policial, que é contra os direitos humanos e as políticas de ação afirmativa”.
Com o intuito de abordar o racismo estrutural em diversos aspectos, o debate de abertura contou com a presença da ativista Luciana Araújo, Movimento Negro Unificado, Tâmara Pacheco, Rede de Resistência ao Genocídio e integrante da Quilombação, Marcelo Cavanha, Marcha da Consciência Negra, Maurício Bonilha, Defensoria Pública de São Paulo e Maria José Menezes, Núcleo da Consciência Negra (NCN) da USP.
Sobre as propostas de Bolsonaro, a mesa também abordou a onda conversadora e reacionária que está ganhando espaço em diversos países do mundo.
“O grande risco é a naturalização dessa violência em que as pessoas assumem sem medo que são racistas, homofóbicas e xenofóbicas” destaca Maria José, NCN – USP.
Construir a resistência: reconstruir o campo progressista
Para criar a resistência, os convidados do Seminário falaram sobre a necessidade de reconstruir os ideais progressistas na prática a partir da base periférica, tendo a população negra como sujeito principal. Outro ponto abordado foi a importância da articulação de redes dentro e fora do Brasil para criar alianças em busca de uma oposição mais sólida ao governo de Jair Bolsonaro.
“Precisamos minimizar as divergências para juntar diferentes coletivos e pessoas que atuam em diversas frentes”, coloca Luciana.
Na prática, a Rede sugere uma construção coletiva protagonizada principalmente pelos mais atingidos pela política da extrema direita: mulheres negras, jovens negras e negros e trabalhadores e trabalhadoras.
Para viabilizar esse ideal, a mesa abordou o impasse vivido no Brasil atualmente: a ampliação do acolhimento do discurso conservador e das ideias de direita dentro da própria periferia.
“Precisamos refletir sobre como a militância se encaixa na vida concreta do nosso povo”, completa Luciana Araújo.
A Internet e a Informação na Conjuntura Política Atual
Tendo em vista uma campanha que se desenvolveu com o auxílio das redes sociais e do compartilhamento das Fake News, no Seminário também foi colocada a questão do impacto das notícias falsas como estratégia não só para a eleição de Jair Bolsonaro, como nesse momento pós-eleição com a chegada das Firehosing, que são as “notícias bombas”.
Sobre a tática das Firehosing, a mesa colocou ser imprescindível mantar-se alerta. Essa estratégia, cerceada pela internet e redes sociais, se baseia no vazamento de uma notícia que chama a atenção das pessoas e gera uma certa histeria, como aconteceu com a união do Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente, por exemplo, para distrair a opinião pública enquanto outras medidas estão sendo tomadas sem o alarde da mídia, de maneira silenciosa.
Dessa forma, existe um desgaste da oposição. “Acompanhar todos esses mandos e desmandos é cansativo. Temo pela saúde mental do nosso povo, mas precisamos tomar cuidado com essas pequenas armadilhas”, completa Maria José.