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Evento propõe furar bolhas para promover negócios de impacto social

8 de junho de 2018

Representantes de empresas, fundos e governo reuniram-se por dois dias no Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2018 para discutir sobre protagonismo e propor mudanças que incluam negros, mulheres e pessoas periféricas no campo de investimentos

Texto e imagem / Thalyta Martins

Realizado em 6 e 7 de junho, no Complexo Aché Cultural, do Instituto Tomie Ohtake, o Fórum de Finanças Sociais e Negócios de Impacto 2018 foi marcado por discussões sobre formas de gerar transformações por meio de soluções que aliem impacto sistêmico socioambiental com modelo de negócios rentável.

Para diversificar e representar mais setores nas conversas, a organização os diálogos em quatro temas: periferia, gênero e raça; governo; meio ambiente; e grandes empresas.

Periferia, Gênero e Raça

Essa temática reuniu pessoas da sociedade civil, com debatedores, investidores e empreendedores das periferias, representantes de empresas e governo para discutir como que o capital chega e permanece nos espaços que não são os grandes centros.

A primeira mesa, que aconteceu dia 6, teve como tema “Tese de mudança para impacto”, da qual Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, DJ Bola, de A Banca, e Greta Salvi, do Fundo Zona Leste Sustentável, foram mediados por Adriana Barbosa, empresária e idealizadora da Feira Preta. Eles conversaram com os presentes sobre protagonismo, remuneração, superação e formas de apoiar negócios de impacto sobre três frentes: levar recurso financeiro, disponibilizar infraestrutura e capacitação e gerar conhecimento.

DJ Bola sugeriu mudanças culturais para moradores de regiões periféricas ganharem dinheiro e se manterem lá, assim como os impactos positivos irem além de relatórios e continuarem nas quebradas. Ele falou também sobre a importância da geração de empregos dentro desses bairros e de fomentar o protagonismo entre as pessoas de tais localidades. “É importante a quebrada participar da construção de ecossistemas”, afirmou.

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Adriana Barbosa, Ana Fontes e DJ Bola na mesa “Tese de mudança para impacto” no dia 6. Greta Salvi do Fundo Zona Leste Sustentável também fez parte da conversa

Ana Fontes, da Rede Mulher Empreendedora, completou a fala de DJ Bola, ao afirmar que a melhor maneira para haver empoderamento na periferia é fazer dinheiro circular lá. “Não temos que entrar como salvadores, mas sim querendo trocar. [Mudanças] não darão certo se não fizermos essas conexões.”

Selma Moreira, do Fundo Baobá, falou sobre racismo, captação e distribuição de capital, e da função do movimento do qual faz parte. De acordo com ela, em seis anos e meio do fundo, seis editais foram realizados e 64 organizações negras, quilombolas e periféricas atendidas. “Se a gente não observar o problema, a gente não o resolverá”, disse, ao lembrar sobre o racismo que atinge a maioria populacional no Brasil.

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Selma Moreira, do Fundo Baobá, fez parte da mesa “Periferia, raça e gênero: reflexão sistêmica” no dia 6

Itala Herta falou sobre o Vale do Dendê, que busca gerar oportunidades para a população de Salvador, ao mesmo tempo que a conecta com o futuro e mantêm as tradições. “Salvador respira indústria criativa e inovação social e a gente entende que a margem é a grande potência desse negócio!”, afirmou.

Furar bolhas, ocupar e resistir

No dia 7, Michelle Fernandes, da Boutique de Krioula, falou sobre o desafio de ocupar lugares como o do Fórum, com maioria masculina e branca, sendo uma mulher negra, periférica e empreendedora. De acordo com ela, o acesso à educação empreendedora é mais difícil para esses grupos. No entanto, afirma ter aprendido com a mãe, que vendia marmita em um carrinho de feira, o que era empreender.

“Entendi que o sucesso do meu trabalho é definido pelos testemunhos que recebo dos meus clientes. Por exemplo, há uma parte no [perfil do] Instagram da minha marca que é direcionada à exibição de como a minha ação atinge outras mulheres negras.”

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Michelle Fernandes participou da mesa “Os desafios e soluções dos empreendedores de impacto” no dia 7

Em entrevista ao Alma Preta, Michele falou que traz para esses espaços o que ela sabe, sem falas robustas, mas o que ela viveu aprendeu em seis anos de empresa.

“É muito importante eu estar aqui neste lugar justamente para mostrar que nós, mulheres negras e periféricas, podemos também falar de negócios. A gente tem também propriedade de falar dos nossos negócios, mesmo não usando as nomenclaturas. Temos esse mesmo poder e é importante estarmos nesses lugares, porque, se falarmos sobre empreendedorismo, quem empreende mais do que uma mulher preta que está lá na periferia sustentando a sua família desde a abolição?”, refletiu a empreendedora.

A empresa Boutique de Krioula vem crescendo e atingindo o mercado nacional e internacional. O conselho que Michelle dá para quem quer empreender e ter sucesso é procurar mentorias, estudos e toda possibilidade de participação em cursos e incubações, como ela fez.

“A cada lugar que você vai, você conversa com outra pessoa que se identifica com o seu trabalho e te chama para um outro espaço. Desse modo, passamos a ocupar e representar essas mulheres negras até chegar um ponto que a gente não precise ocupar: passa a ser indispensável colocar essa mulher lá. A pessoa tem que ir com fé, estudar bastante, procurar pessoas que possam ajudar a montar o seu negócio e seguir em frente”, ressaltou.

De acordo com Adriana Barbosa, fundadora da Feira Preta, o fato de haver discussão no Fórum sobre furar bolhas e incluir negros, mulheres e pessoas da periferia, é de extrema importância, uma vez que se trata de um evento com público da área corporativa e que lança tendências para a área de investimento social privado.

“É aqui onde são discutidas e identificadas as boas práticas as empresas replicarão. Então, é aqui onde a gente tem que estar para pautar as nossas questões. Se não estivermos aqui para isso, dificilmente haverá mudanças.”

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Adriana Barbosa mediou mesas no dia 6 e discutiu com os convidados sobre empreendedorismo e impacto social

Adriana espera, em longo prazo, que empresas comecem a pautar esses temas dentro de suas respectivas práticas e diretrizes, assim como os investimentos em mulheres, negros e empreendedores da periferia estejam mais naturalizados a ponto de isso tornar-se parte das estratégias de tais corporações.

Quais são os caminhos seguintes?

Giovanni Harvey, do Baobá, falou para os participantes na mesa de encerramento que não é possível sustentar iniciativas deste segmento sem protagonismo.

Para ele, a base é a convergência de propósitos. “A revisão conceitual para inclusão desses grupos de pessoas e aperfeiçoamento metodológicos são essenciais para maior diversidade nos empreendimentos que recebem capital de impacto. Os projetos devem mudar a hegemonia atual e normatividades formais, inclusive as não escritas.”

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Giovanni Harvey, do Fundo Baobá, participou da mesa “Reflexões do campo: quais os caminhos adiante?” no dia 7

Em entrevista ao Alma Preta, Harvey falou sobre como esta questão abrange mais do que a ocupação de espaços e postos de poder.

“Trata-se de haver responsabilidades na construção e no aperfeiçoamento desta agenda. A nossa participação não pode ser como demandante, mas como protagonistas, construtores de hegemonia de valores e condutores desse processo.”

Lara Barreto, da Vetor Brasil, ressaltou a importância de entender o governo como fonte de fomento de negócios sociais. “É necessário criar mais soluções conjuntas entre governo e negócios de impacto. Além disso, é importante entendermos quais são as necessidades dentro desse cenário, cruzarmos pontes de ambos os lados e fortalecermos essas relações para estabelecermos políticas públicas.”

O grupo Gumboot Dance Brasil fechou oficialmente a noite com apresentação musical que estuda ritmos de trabalhadores de minas de diamante e de ouro em meados do século XIX.

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Grupo Gomboot Dance Brasil finalizou o evento com apresentação cultural

“Por conta dos inúmeros povos de diversas línguas (a África do Sul tem cerca de onze línguas oficiais), os trabalhadores encontraram um formato de se comunicar sem precisar do idioma e descobriram que com o batuque das botas, canto e gritos, [essa] era a solução para que pudessem se comunicar”, diz a página do grupo no Facebook.

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