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“Não existe mudança social sem comunicação”: Em seminário, Frente de Mídias Negras discute democratização dos meios

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25 de novembro de 2015

 Texto: Solon Neto / Fotos: Solon Neto

Comunicadoras negras e negros discutem “Novas Mídias e Financiamento” em São Paulo

No dia 24/11, em São Paulo, na sede da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial, a SMPIR, a Frente de Mídias Negras, iniciativa de comunicadores negros para debater a democratização da mídia sob a perspectiva racial, reuniu diversos membros de sites de mídia e movimento negro. O Seminário “Novas Mídias e Questão Racial” teve à mesa de debate o secretário da SMPIR, Maurício Pestana, assim como seu Secretário Adjunto, Elizeu Soares; a comunicadora Aline Ramos, do Que nega é essa?; o editor do blog Negro Belchior, Douglas Belchior; a jornalista Cinthia Gomes, do Cojira SP; além de Pedro Borges, do Alma Preta.

As pautas giraram em torno de temas históricos e de reivindicação. A mídia negra no Brasil, que data da primeira metade do século XIX, sempre teve dificuldades de se manter em decorrência do racismo e da manutenção de um sistema de comunicação exclusivista. No entanto, é de costume que haja financiamento público do jornalismo realizado por meios de comunicação tradicionais, e aos alternativos restam poucos recursos. Mesmo os meios considerados alternativos e progressistas, são separados por sua temática, e a Mídia Negra é posta à parte.

A Frente de Mídias Negras serve para manter uma pauta política conjunta na luta contra o racismo através dos meios de comunicação. As pessoas passaram a auto-declarar-se negras negras no Brasil, que voltou a ter maioria afrodescendente na última década. Segundo o IBGE, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 2010, os negros já somam 53% da população brasileira. No entanto, não é de cunho geral a pauta política sobre o assunto. Os partidos, e mesmo os governos ditos progressistas, não põem a questão racial como prioridade, e ignoram, apesar de avanços, que a questão seja de importância primeira.

“Precisamos ser sujeito e não só objeto da notícia”

A unânimidade do encontro girou em torno da luta contra o racismo enquanto sistema e da necessidade de meios de comunicação que se dediquem às pautas negras, importantes para a maioria da população brasileira, que é negra. O poder público presente manteve sua simpatia às pautas de comunicação, e se comprometeu a levar adiante as pautas discutidas e as exigências da Frente.

Elizeu Soares, Secretário Adjunto da SMPIR, declarou que a Frente de Mídias Negras tem “importância grandiosa”, e valorizou a união entre os negros, devido ao inerente fortalecimento. Para ele, “uma frente como essa pode ajudar a secretaria a formular políticas públicas” e introduzir a pauta da democratização do financiamento de mídias, em especial a negra, dentro da administração municipal. “É um inicio de diálogo que a nossa secretaria tem interesse de fazer”.

Para Cinthia Gomes, da rádio CBN e do coletivo COJIRA-SP, é necessário que o negro saia da posição de coadjuvante da notícia e passe a incidir sobre ela. Dessa maneira as pautas que faltam na grande mídia podem começar a aparecer com mais frequência.

“Precisamos ser sujeito e não só objeto da notícia, porque o que acontece hoje na grande mídia é que a gente aparece na notícia, mas a presença de negros nas redações é pequena. Então a gente precisa criar as nossas próprias mídias, as mídias negras, é importante para a gente conseguir ser sujeito, e para a gente conseguir selecionar a nossa agenda”.

Para Cinthia, a agenda negra necessita de mídias negras para poder se disseminar, e acredita que não se deve esquecer de pressionar a grande mídia ao mesmo tempo, pois a maioria da população é negra e é papel da mídia questionar o racismo. “Não dá pra pensar num país democrático que seja racista.”, afirma.

Cinthia concluiu com o raciocínio de que as mídias negras necessitam de financiamento público da mesma forma que os meios tradicionais. Afinal, os negros são também cidadãos, e tem como direito, a aplicação dos impostos em razão de suas pautas e necessidades.

“Nós, comunicadores negros, somos também cidadãos que pagam impostos, e a se a gente paga imposto a gente está gerando essa demanda de utilização desses impostos. A gente quer que esse dinheiro público, e o dinheiro público não é um dinheiro sem dono, é um dinheiro do povo brasileiro, a gente quer que esse dinheiro seja voltado também para o financiamento dos nossos meios de comunicação.”

“Não existe mudança social sem comunicação”

Aline Ramos, criadora do blog “Que Nega é Essa?”, defendeu a qualificação do discurso jornalístico sobre racismo, apontando sua crítica para as pautas rasas encontradas nos meios tradicionais que insistiriam em manter discussões superadas como “Existe racismo no Brasil?”. Para ela é necessário avançar e fortalecer os discursos.

“A gente precisa fortalecer as mídias que já existem para que a gente possa fazer uma pressão dentro da sociedade. Não existe mudança social sem comunicação, e em diversos níveis. Só que a gente sempre esbarra na dificuldade de permanência desses veículos de mídia negra”.

A mídia negra sempre existiu no país e sofreu com o empecilho da falta de apoio para que se pudesse manter meios por longos períodos. A internet, com suas possibilidades de democratização, tem criado oportunidades para o surgimento de novas mídias, inclusive a negra. E é necessário aporte financeiro para sua continuidade.

“É importante que o poder público participe do fortalecimento dessas mídias e do seu financiamento, justamente porque se a gente para pra pensar que quem pauta as questões raciais são essas mídias, e se o racismo é um problema estrutural na sociedade, tem que ser uma preocupação do poder público”, pontua Aline.

Já Douglas Belchior foi enfático em vários momentos quanto à proposta política da Frente em relação ao poder público. Para ele, a Frente é um espaço de elaboração importante, e que ao longo do tempo, fortalecida, pode ampliar seu campo de ação.

“Eu penso que a nossa pauta é a pauta da democratização dos meios de comunicação. Falta uma elaboração negra sobre esse assunto, um recorte e uma leitura a partir do lugar negro na democratização dos meios de comunicação, e acho que a Frente de Mídias Negras é um espaço privilegiado para elaborar essa ideia, para elaborar intervenções políticas do movimento negro para o debate das comunicações no Brasil. Claro, num primeiro momento para fortalecer os grupos que tem produzido conteúdo negro, mas num segundo momento, talvez até em paralelo, fazer luta política.”

A página de comunicação da Frente de Mídias Negras fica no Facebook, e você pode conferi-la aqui.

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