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Ocupação Preta pauta raça, interseccionalidade e mobilidade urbana em Itajubá-MG

3 de maio de 2016

Texto: Pedro Borges / Foto: Pedro Borges

 Organizador do evento, jovem negro LGBT, é agredido durante as atividades

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Entre os dias 30 de Abril e 1 de Maio, na cidade de Itajubá-MG, aconteceu a segunda edição da Ocupação Preta. O evento foi organizado por jovens pretos da cidade com o objetivo de discutir o espaço de negros, mulheres, LGBTs e moradores da periferia dentro da sociedade e no município de Itajubá.

No sábado, na região central, o público presente pôde apreciar e consumir alimentos vegetariano e acessórios voltados à comunidade negra, assim como acompanhar debates e intervenções musicais. Destaque para a apresentação das cantoras e compositoras Luedji Luna, MC Linn da Quebrada e Nina Oliveira. Ézio Rosa, Arthur Romeu, Renata Prado e Gabriela Gaabe fizeram também colocações acerca da violência contra os grupos minoritários.

Isso porque durante as atividades, Gabriel Hilair, principal organizador da Ocupação Preta, foi agredido por um sujeito que participava do evento. Antes mesmo do início do encontro, pichações de cunho homofóbico e racista foram encontradas.

OcupaçãoPreta13 Gabriel Hilair foi o principal idealizador da Ocupação Preta

Gabriel Hilair vê a violência contra a população negra e LGBT como cotidiana na cidade de Itajubá. “Eu enquanto bicha preta falo por mim e pelos meus amigos. A gente apanha diariamente. O fato da gente sair com um shorts curto pode ser o motivo da gente ir até a esquina e levar um pontapé. Na Ocupação tinham pichações e eu levei um murro nas costas. É um espaço muito hostil para a gente”.

A violência contra a população preta e LGBT não é exclusividade da cidade mineira. Em 2012, de acordo com o Mapa do Encarceramento e da Violência, 173.536 dos presos no país eram brancos e 295.242, negros. No mesmo ano, enquanto 9.667 brancos morreram por armas de fogo, outros 27.638 negros perderam a vida da mesma forma.

O país é também líder no mundo com relação à violência LGBT. Em 2013, segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), que se utiliza de notícias de jornais e informações concedidas por ONGs, um LGBT é morto no país há cada 28 horas. Segundo ranking feito pela Associação Internacional de Gays e Lésbicas, o Brasil foi responsável por 44% das mortes de LGBTs em todo o planeta.

Linn da Quebrada utiliza a agressão como exemplo para reafirmar a necessidade das discussões interseccionais. “O que se evidenciou ali, além do racismo, é um machismo, uma virilidade que se coloca, onde tudo se resolve dessa maneira. Então há uma necessidade dessas coisas serem discutidas entre nós, porque nós mesmas, uma com as outras, deixamos a permanência dessas barreiras e do machismo estrutural”.

OcupaçãoPreta12 Cerca de 200 pessoas participaram das atividades do primeiro dia

Ocupação Preta, Feminina e LGBT do espaço público

Um dos principais motes de discussão do encontro era a utilização do espaço no município de Itajubá e na sociedade pelos grupos minoritários. “O espaço público é público. E se ele é público, ele deve ser de todo mundo. A cidade de Itajubá é majoritariamente branca, elitista, uma cidade universitária e essa iniciativa é de suma importância. Ela demarca que existem negros nesse local sim e que a gente tem que estar para além das periferias”, explica Luedji Luna.

Mais do que ocupar, o evento tinha o intuito de promover a troca de experiência e conhecimento entre negras e negros de diferentes localidades do país. Por este motivo, o segundo dia de atividades se concentrou na periferia do município e a presença de crianças e adolescentes foi marcante.

Wilber Chomba, professor de break e militante do Hip Hop, exaltou a possibilidade de aprendizado com o encontro. “A gente acaba passando muitas informações que as pessoas não têm. Isso fica retido. Na escola a gente não aprende e isso tem que ser passado de um para o outro. A gente precisa se unir mais para conseguir mobilizar as pessoas para o entendimento de que somos lindos sim e merecemos respeito”.

OcupaçãoPreta35 O segundo dia foi marcado pela presença de crianças e adolescentes

Avalição e novas ocupações

Apesar do caso de violência, Gabriel Hilair classificou a Ocupação Preta como excelente. “Era um evento, um rolezinho dos pretos, mas a gente tomou projeção internacional. Saímos no Afropunk, então, eu ainda não sei dizer o que eu estou sentindo. Eu não parei para pensar no que aconteceu ontem. Eu não vi foto ainda. Mas foi um dos dias mais felizes da minha vida”.

O julgamento positivo é um fator de motivação para Gabriel planejar novas ocupações pretas em Itajubá-MG. Na próxima edição, ele almeja contar com a parceria da prefeitura para garantir transporte gratuito da periferia para a região central. “Era para acontecer nessa, mas a prefeitura não deu apoio. A gente queria conversar com a Secretaria de Planejamento Urbano e conseguir uns dois ônibus para facilitar o acesso das pessoas ao centro e esse seria o começo da discussão de como a mobilidade urbana e a segregação espacial estão presentes aqui”.

 
Confira as entrevistas completas:

 

 

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