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“A geração mais nova precisa conhecer o legado de mulheres negras”

10 de novembro de 2018

Legado de resistência do movimento e da literatura negra foi o destaque da Festa Literária das Periferias (FLUP); Para filósofa Djamila Ribeiro, o ensinamento de mulheres negras é fundamental para se atravessar momentos de avanço do conservadorismo

Texto / Pedro Borges
Imagem / Francisco Costa

A resistência do movimento negro e a importância da literatura africana e afrobrasileira foram tema do debate “Nossos Passos Vêm de Longe”, que ocorreu na Festa Literária das Periferias (FLUP), no dia 9 de Novembro, sexta-feira, às 18h.

O debate reuniu Djamila Ribeiro, autora da obra “O que é lugar de fala?”, Tom Farias, responsável pelo livro “Carolina, uma biografia” e o moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, um dos principais escritores africanos do século e responsável pelo título “Gungunhana: Ualalapi e As mulheres do Imperador”.

A curadora da coleção “Feminismos Plurais”, Djamila Ribeiro, acredita que faz parte do processo de colonização o apagamento da escrita de mulheres e homens negros. Ela se propõe a discutir uma nova construção de humanidade do negro a partir de referências norte-americanas, mas sobretudo latino-americanas e brasileiras.

Ela também pensa que seja necessário conhecer o passado de resistência negra no país para que se resista nos momentos próximos, sobretudo com a eleição de candidatos conservadores, como Jair Bolsonaro (PSL).

“A geração mais nova precisa conhecer esse legado e se apropriar dele, porque às vezes a gente acha que está inventando a roda. Conhecer essa história, essas pessoas, abrir caminhos para continuar no nosso tempo histórico com as nossas diferenças”.

Ungulani Ba Ka Khosa reconhece a importância do resgate histórico e acredita ser necessário fortalecer a cultura no país, porque ela é uma ferramenta fundamental para a luta contra o racismo.

“A nossa grande luta é a de colocar a cultura no primeiro plano. É a maior defesa que a gente tem perante qualquer investida. O grande capital está aí para acabar com tudo, destruir tudo e todo tecido social”.

O moçambicano diz que costuma vir ao Brasil e reconheceu, porém, a existência de avanços sobre a representatividade negra no país.

“Passei pela manhã em livrarias em Botafogo e vi estandes de literatura afro, coisa que não via há 10 anos. Há uma década atrás era impensável. Eu acho que nesse momento estamos num bom caminho para resistir, e resistir culturalmente é um bom caminho”.

Carolina Maria de Jesus

Tom Farias é especialista em Cruz e Souza, José do Patrocínio e Carolina Maria de Jesus. Para ela, a escritora ainda é reduzida à obra “Quarto de Despejo”, mesmo com outras publicações, como “Casa de Alvenaria” e o “Meu sonho é escrever…”.

Carolina Maria de Jesus foi traduzida para 16 idiomas e é best-seller em 11 países. Apesar disso, Tom contou que a escritora costuma ser rotulada de maneira negativa, mesmo com características rejeitadas por ela. A autora já foi descrita como a “poeta do lixo”.

Por isso, o pesquisador incentivou todos presentes a escrever e produzir sobre Carolina Maria de Jesus. Para ele, a escritora tem muito a ser explorada e deixa um legado com muitos ensinamentos para a juventude negra.

“A Carolina não está atual a toa. Ela está porque o tempo dela continua o mesmo: pobreza, violência, discriminação. Ela continua muito firme e imponente. Ela pode ajudar muito os nossos meninos e as nossas meninas que querem ser autores, escrever, que querem falar, pensar, ou enfrentar o sistema com as armas que ela tinha, escrevendo e lendo”.

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