O Fórum investigou 7.952 registros de intervenções policiais terminados em morte, no período de 2017 e 2018
Texto / Lucas Veloso | Edição / Pedro Borges | Imagem / Clarice Castro
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A 13ª edição do Anuário da Violência, divulgada nesta terça-feira, 10, pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o (FBSP), apontou que a maioria das ocorrências policiais terminadas em morte ocorreram no período da madrugada, cerca de 40%.
De acordo com os números, além da madrugada, se as ocorrências da noite forem consideradas também, 64,9% das mortes provocadas pelas polícias brasileiras acontecem entre às 18h e 05h59min
“Se a gente for analisar o trabalho feito pelas polícias, está muito ligado a flagrantes, com quem está na rua. A maior parcela da população circula nas ruas, ainda mais os jovens, de noite”, explica Renato Sérgio de Lima, um dos pesquisadores. “Eles estão voltando da escola ou indo a alguma atividade de lazer. Concluímos que estas pessoas correm riscos”, completa.
Os jovens negros aparecem como a maior parcela dos mortos. Eles representam 75,4% dos assassinados pelas polícias do país.
Para Renato, o racismo no Brasil explica porque os números atestam a maior violência com os negros. “A questão racial faz com que a gente naturalize a vigilância de jovens, nas periferias, voltando da escola, e não olhe para uma classe média cometendo delitos, envolvidos com drogas e armas, mas dentro de suas casas”.
Daniel Cerqueira, do Fórum de Segurança Pública, observa que os dados reforçam o viés racial da violência no Brasil e denuncia o racismo estrutural no Brasil. “O país é extremamente racista. A polícia, como organização da sociedade, vai refletir o racismo nas abordagens, é isso que acontece”. O especialista ainda cita uma expressão comum entre os militares ‘preto parado é suspeito e preto correndo é bandido’.
Os estudiosos lembram do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial, do ano passado. O documento apontou que a chance de um jovem negro ser vítima de homicídio no Brasil é, em média, 2,5 vezes superior à de um jovem branco. ”Eu não descartaria a hipótese de racismo para qualificar os dados”, define Daniel.
A polícia ideal
Sâmira Bueno, diretora executiva do FBSP, acredita que a ascensão da extrema direita no mundo provocou o ‘combate a um inimigo’.
“Na Inglaterra e nos EUA, temos a guerra contra os imigrantes, por exemplo. De algum modo, a policia do Brasil, tem feito esse papel de ‘combater o inimigo’, que basicamente é a população negra e periférica”, critica. “A gente vê como o jovem negro tem sido demonizado como algo a ser combatido pelo Estado”, prossegue.
Neste sentido, Renato Sérgio defende que uma polícia ideal é baseada no planejamento, com protocolos de ações e confiança das pessoas.
“A instituição precisa estar próxima da população. Isso é um desafio no mundo todo, mas o ‘controle’ pode ser mais igual entre as pessoas, garantindo direitos e cidadania às pessoas, ao contrário de medo e pavor”.
Segundo Daniel, é importante uma mobilização da sociedade para tratar das questões apontadas no Anuário. “Existe uma questão que podemos elaborar como racismo institucional. Precisamos aprofundar esse resultado”, indica o pesquisador.