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Ação da PM termina com mototaxista negro como único indiciado por ‘direção perigosa’

Caso que envolve o ator e professor de teatro Ricardo Fernandes, o mototaxista identificado como Tiago e o ativista Raull Santiago aconteceu na noite de quarta-feira (19), na Avenida Brasil, no Rio de Janeiro

20 de fevereiro de 2020

O racismo e o abuso de poder marcaram a abordagem do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro contra um grupo de pessoas na Avenida Brasil, uma das mais importantes da cidade, na noite de quarta-feira (19). Dois homens negros retintos (de pele escura) foram os mais agredidos, conforme o relato de um deles ao Alma Preta.

“Fomos abordados de uma forma muito emblemática, pois não oferecemos nenhum perigo e acatamos todas as ordens. Em um dado momento, eu questionei um dos policiais se o tipo de abordagem feito com a gente era comum em qualquer lugar da cidade e com pessoas de qualquer tom de pele. Ele me perguntou se eu estava o chamando de racista e disse que a abordagem era comum”, conta o ator e professor de teatro Ricardo Fernandes.

Ricardo e o mototaxista identificado como Tiago estavam em um veículo, enquanto Raull Santiago, integrante do coletivo Papo Reto, e outras pessoas estavam em outras duas motocicletas, a caminho do Complexo do Alemão. O caso aconteceu por volta das 19h, quando o grupo se deslocava para um jantar de aniversário na casa da mãe do ativista, marcado para às 19h30.

O mototaxista identificado como Tiago foi o único indiciado por “direção perigosa”. Ricardo Fernandes não compreendeu a razão de a alegação dos PMs ter caído somente sob o mototaxista. “Todas as motocicletas estavam iguais e não deu para entender qual foi o critério dos policiais para escolher indiciar a pessoa de pele mais retinta [escura]. Essa postura da Polícia Militar precisa mudar, pois nós tínhamos instrução, mas o mesmo acontece o tempo todo com pessoas que não têm”, sustenta.

Filmagem da ação da polícia

Ao notar a ação truculenta dos policiais contra os dois homens, Raull Santiago iniciou uma transmissão ao vivo em seu Twitter. De acordo com o Código Penal, a filmagem de ações policiais não é crime, mas a gravação foi interrompida por um dos policiais que retirou o celular do ativista.

“Não é comum as pessoas abordadas pela polícia se posicionarem a respeito. Nós sabíamos que os policiais estavam ultrapassando todos os limites e ao perceber o nosso nível de instrução em relação às leis, um deles ficou ainda mais estressado e pediu para o Raull tirar a gente dali. Nós não saímos porque temíamos o que poderia acontecer, já que infelizmente temos no Rio de Janeiro a polícia que mais mata no país e estávamos protegendo o nosso amigo”, relata Ricardo Fernandes.

A co-fundadora e coordenadora de comunicação do coletivo Papo Reto, Lana Souza, lembra que os policiais também debocharam da situação. “Em tom de deboche, os policiais se negaram a falar com a Comissão dos Direitos Humanos e ficaram rindo. Conseguimos expor a situação por meio da articulação online”, recorda.

Ricardo Fernandes, o mototaxista Tiago, Raull Santiago e as demais vítimas foram ao 21º Distrito Policial de Bonsucesso para prestar depoimento, onde permaneceram até o início desta quinta-feira (20).

Eliana Sousa e Luna Arouca, da ONG Redes da Maré, e um defensor público acompanham o caso. A Polícia Militar do Rio de Janeiro ainda não se posicionou sobre o ocorrido.

  • Redação

    A Alma Preta é uma agência de notícias e comunicação especializada na temática étnico-racial no Brasil.

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