O Sistema Único de Saúde é responsável pela logística da campanha de imunização contra o vírus que já matou mais de 180 mil brasileiros; Ministério da Saúde ainda não definiu data para o armazenamento e distribuição dos insumos
Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões | Imagem: Siphiwe Sibeko
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A logística para o armazenamento e a distribuição de insumos para a campanha de vacinação contra a Covid-19 ainda não tem data definida pelo Ministério da Saúde e é de responsabilidade do SUS (Sistema Único de Saúde). Para garantir os resultados positivos na estruturação da campanha, o governo de Jair Bolsonaro informa no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação que haverá investimento na capacitação de profissionais da saúde.
Diante de um cenário em que a população negra e periférica se mantém como mais vulnerável quando se trata da infecção e morte causada pela Covid-19, a médica e mestre em Patologia Humana pela Fiocruz, Zezé Menezes, afirma que o processo de vacinação não seria possível sem o intermédio do SUS e revela a importância da população negra no sistema de saúde.
“O sistema único é uma conquista do povo preto, da mobilização de ativistas, das mulheres nas periferias e de grupos de sanitaristas, que tem uma visão avançada. É um sistema que atende sem nenhum tipo de discriminação todos os cidadãos e cidadãs do país e isso é algo muito recente. A Covid-19 tem um marcador racial, a maioria das pessoas que morrem são pessoas negras e isso tem a ver com o acesso dessas pessoas aos serviços públicos”, explica a médica.
No plano divulgado pelo governo federal, a indicação para o orçamento inicial é de R$ 1,9 bilhão. Os valores são distribuídos entre os laboratórios responsáveis: AstraZeneca/Fiocruz e Consórcio Covax Facility. Do valor citado, R$ 62 milhões já foram enviados para a compra de seringas e agulhas. O acesso ao dinheiro, assim como a classe social, também são fatores que podem afastar parcelas da população da imunização, considera Zezé.
“Isso traz uma assimetria muito grande quando falamos sobre vacinas e a rede privada. A cobertura vacinal no Brasil está se tornando mais sofisticada a cada ano e isso acontece por conta da pressão dos movimentos sociais”, afirma a médica.
Diálogo sobre a imunização e movimento anti-vacina
“Tem uma camada de pessoas que estão sendo levadas a questionar a importância e a validade das vacinas”, recorda Zezé. Segundo pesquisa do Instituto Datafolha, o percentual de brasileiros que não pretendem se vacinar têm crescido de forma alarmante nos últimos meses, passando de 9% em agosto para 22% em dezembro.
“A comunicação é tudo num momento como este. Precisa ficar bem claro e não está, a gente precisa muito focar no diálogo”, alerta a infectologista Gladys Prado, do hospital Sírio Libanês. A falta de comunicação é um dos fatores que colabora com o crescimento e disseminação de notícias falsas, segundo a médica, assim como no fomento de movimentos anti vacinação.
Com influência vinda principalmente do governo federal, a mestre em Patologia, Zezé Menezes, questiona a responsabilidade do poder público quando se trata do crescimento de movimentos antivacina no Brasil, que se estabelece num contexto em que a falta de acesso à população é um problema ainda sem solução. “A população de classe média e rica tem acesso a imunizações que a população pobre não tem. O serviço privado tem várias vacinas importantes e que não estão no nosso calendário ainda”, conclui.