Os Jogos Olímpicos de Paris 2024 acontecem no meio do ano e o Brasil é um dos países mais tradicionais na competição. Um dos principais nomes brasileiros nas Olimpíadas é Aída dos Santos, que foi a primeira mulher brasileira finalista em um esporte olímpico.
Salto em altura. Esse era o esporte praticado pela jovem Aída Menezes dos Santos, cria do Morro do Arroz, subúrbio de Niterói (RJ) que, aos 27 anos, integrou a delegação brasileira nas Olimpíadas de Tóquio, em 1964. Aída chegou ao Japão com títulos de campeã estadual, campeã brasileira, sul-americana e campeã pan-americana da modalidade.
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Naquele ano, ela foi a única mulher em um grupo de 68 atletas. No Japão, tornou-se histórica ao competir com o tornozelo machucado e, ainda sim, ficar em quarto lugar na classificação geral de salto em altura.
A história poderia ter sido diferente, mas Aída, que saltou 1,74m, não tinha calçados adequados, uniforme, técnico, equipamentos, quem dirá patrocínio. Era só ela, literalmente, a vontade de vencer e um sonho. Naquele ano, ela ainda competiu nos 100m rasos e lançamento de dardos. Nos Jogos seguintes, no México terminou em vigésimo lugar no pentatlo.
Foi por pouco, mas foi por muito tempo que esse recorde perdurou. Seu desempenho foi o melhor resultado individual de uma mulher brasileira durante 32 anos, sendo superado apenas em 1996, quando Jacqueline Silva e Sandra Pires levaram o ouro ao vencerem as compatriotas Adriana Samuel e Mônica Rodrigues.
Aída dos Santos conheceu o salto em altura por acaso. Ela pegava carona na bicicleta de uma amiga e foi desafiada a iniciar no atletismo. Desde o início de sua trajetória, Aída foi surpreendente: mesmo sem nunca ter treinado antes, ela atingiu 1,40m, apenas cinco centímetros a menos que o recorde estadual de 1,45m.
Seus feitos não impressionavam sua humilde família, que precisava de ajuda em casa para complementar a renda. Filha de carpinteiro e uma lavadeira, Aída foi desencorajada no esporte. “Esporte não enche barriga”, dizia seu pai quando falava de seus desejos de atleta.
Apaixonada por voleibol, ela precisou enfrentar um dos mais difíceis adversários: o racismo. Durante campeonatos escolares de sua cidade, ela era a única negra em quadra.
Em entrevista ao podcast Ubuntu Esporte Clube, a ex-atleta mencionou um episódio em que ouviu alguém, nas arquibancadas, dizer: “Sai daí crioula, seu lugar é na cozinha”. Ao fim da partida, pediu o microfone e respondeu: “Meu lugar é na cozinha, na sala, no quarto e numa quadra de esporte também”.
Após sua carreira como atleta, ela se tornou uma geógrafa, pedagoga e professora de educação física especialista no salto em altura. Na Universidade Federal Fluminense (UFF), foi professora voluntária de natação, basquete e futsal
Em 2020 foi homenageada com um mural de 30 metros com seu rosto desenhado. A obra, localizada em Niterói, marcava os 56 anos de sua participação nas Olimpíadas de Tóquio. Ela também recebeu o Troféu Adhemar Ferreira da Silva no Prêmio Brasil Olímpico, foi agraciada com o Diploma Mundial Mulher e Esporte, uma premiação especial do Comitê Olímpico Internacional e está eternizada no Hall da Fama do Comitê Olímpico do Brasil.