Texto: Pedro Borges / Edição de Imagem: Solon Neto
Projeto desenvolve jornalismo sob a perspectiva racial de maneira autônoma e independente
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Em 2015, três estudantes de jornalismo e um do curso de design, todos alunos negros da UNESP, campus Bauru, começaram uma iniciativa audaciosa: a criação de um portal de mídia negra, o Alma Preta.
Desde então, Pedro Borges, Vinicius de Almeida, Vinícius de Araújo e Solon Neto têm feito a cobertura de eventos, como o Encontro de Estudantes e Coletivos Universitários Negros, EECUN, e produzido inúmeras reportagens especializadas sobre a questão racial.
Os temas abordados são muitos. Variam desde o genocídio de negras e negros, representação midiática, cotas raciais, afroempreendedorismo, até pautas estruturantes da sociedade brasileira, como a carga tributária e a democratização da mídia. O ponto em comum de todo material é o alarde e a oposição ao racismo existente no país, fruto da construção do Estado brasileiro e do período escravocrata.
As plataformas de criação e divulgação são diversas. Há uma utilização plural de redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter e Youtube, bem como existe uma produção de conteúdo múltipla, se utilizando de ilustrações, textos escritos ou vídeos. Assim o Alma Preta consegue comunicar e tornar o conteúdo atraente ao leitor.
Para dar continuidade ao projeto, os jovens decidiram dar outro passo, igualmente audacioso: pensar um modelo de negócios capaz de sustentar o portal. “A ideia de fazer uma campanha de assinaturas e uma loja virtual surgiu da necessidade de manutenção do projeto com qualidade. Produzir e mediar informações com credibilidade requer uma estrutura física mínima e garantia de financiamento para os recursos humanos envolvidos nesse processo. A campanha de assinaturas e a loja virtual se colocam como boas possibilidades para estreitar relações com o público que acompanha e valoriza o trabalho feito no Alma Preta, permitindo inclusive maior participação dessas pessoas na direção do projeto, sem que ele dependa de influências externas que alterem a essência da linha editorial adotada”, explica Vinicius de Almeida, jornalista e co-fundador do projeto.
O jornalismo contemporâneo segue uma regra: diminuição das redações, maior presença de textos de assessoria de imprensa e a raridade das reportagens. A publicidade e o aporte governamental têm se mostrado insuficientes para a manutenção de um jornalismo de qualidade. Vinicius de Almeida explica que a fase atual da comunicação permite outras possibilidades de financiamento mais coerentes com a linha editorial dos grupos. “Hoje para fazer jornalismo qualificado é possível recorrer a outras fontes de financiamento, sendo o diálogo direto com o público uma das possibilidades mais interessantes, pois protege o compromisso ético desses veículos. Grupos independentes possuem um olhar diferente do viés hegemônico da mídia comercial, e trazem pluralidade aos debates na sociedade, coisa que não acontece nos meios convencionais, que monopolizam as narrativas”.
Merece destaque, entre os mais de 200 textos autorais publicados desde o início do projeto, a quantidade de eventos da comunidade e/ou movimento negro noticiados, assim como o volume de casos de racismo que se tornaram públicos no portal. Mais do que isso, o Alma Preta disponibiliza em seu canal no Youtube entrevistas com referências da luta anti-racista como Jurema Werneck, KL Jay, Tássia Reis e Yzalú.
Há também nas páginas do portal uma quantidade expressiva de textos de nomes do movimento negro brasileiro das mais diversas faixas etárias e linhas políticas, como Juarez Xavier, Djamila Ribeiro, Dennis de Oliveira, Caroline Amanda Lopes Borges, Mirts Sants e Danilo Lima.
Incentive!
Quem tiver o interesse em colaborar com o Alma Preta e incentivar o jornalismo preto e independente, pode tornar-se assinante ou ainda adquirir um produto na loja virtual. Todo o sistema foi criado para facilitar o acesso e a navegação em nossas redes para que o usuário aprecie o conteúdo do Alma Preta e contribua de modo financeiro para que se dê continuidade à mídia negra e livre.
Os planos podem ser adquiridos em três categorias diferentes, bronze, prata, ouro, e em três periodicidades distintas, mensal, semestral e anual. A equipe do Alma Preta recomenda os planos mais extensos para que o usuário colabore com o planejamento a longo prazo do projeto. Na loja virtual, os interessados podem adquirir camisetas do mais diversos tamanhos, nas cores branca e cinza, que fazem alusão à Carolina Maria de Jesus, Zumbi dos Palmares, e ao logo do Alma Preta, símbolo da negritude.