Organizada por estudantes de serviço social, manifesto pede a contratação efetiva da docente Márcia Eurico
Texto / Anna Laura Moura
Imagem / Fernanda Gomes de Almeida
Os alunos da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) ocuparam os dois prédios do campus Perdizes. Representada pela hashtag #MarciaFica, a greve iniciada na segunda-feira (21) foi organizada pelos estudantes do curso de serviço social, e tem como objetivos reivindicar a contratação efetiva da docente Marcia Eurico e repudiar os ataques racistas que a ocupação vem sofrendo desde o início.
Marcia iniciou o seu trabalho na faculdade para substituir outra professora, afastada por motivos de saúde. Sendo a primeira mulher negra a lecionar em 80 anos do curso, os universitários não aceitaram a presença somente temporária da educadora. A primeira ocupação ocorreu no prédio antigo da universidade. Utilizando cadeiras, os estudantes bloquearam a entrada do local, usando faixas e cartazes de protesto.
Na quarta-feira (23), às 5h, o prédio novo foi paralisado, resultando na greve total do campus. Em nota, o CASS (Centro Acadêmico de Serviço Social) afirmou que o protesto procura reparação histórica. “Destacamos que o Curso de Serviço Social da PUC/SP é pioneiro no País, com mais de 80 anos de existência, e em toda sua história nunca houve em seu quadro de docentes efetivos um/uma docente negro/a”.
Um dos questionamentos é o motivo pelo qual Marcia Eurico não foi contratada de forma efetiva, visto que tem currículo longo. “Ela é professora universitária há mais de 12 anos, tem experiência tanto no campo acadêmico como nos espaços sócio ocupacionais. Foi a autora mais citada nos trabalhos enviados ao 15º CBAS e tem diversos artigos publicados em revistas científicas, tais como Serviço Social e Sociedade e Revista Ser Social, e no próximo dia 25 deste mês defenderá sua tese na PUC-SP”, pontua o Centro Acadêmico em seu comunicado.
Já a emancipação do protesto, resultando na ocupação do segundo prédio, pretende denunciar ofensas racistas e discursos de ódio direcionados aos estudantes. A organização exemplifica os ataques em uma segunda nota. “O professor Luiz Volpato, docente da FEA, ameaçou verbal e fisicamente alunas que compõem a ocupação. Ressaltamos que a agressão física apenas não ocorreu, pois houve uma contenção feita pelos seus próprios alunos, visando a virtude de sua imagem”.
Ocupação feita por alunos da PUC-SP (Imagem: Fernanda Gomes de Almeida)
Ataques racistas
O Coletivo NegraSô, grupo de negros e negras da PUC-SP, fez um comunicado de apoio, mostrando que o movimento negro está alerta ao caso.
“Quinhentos e tantos professores, menos de meia dúzia de pretxs.
Um corpo docente que não representa em nada a sociedade em que está inserida.
Currículos e grades que não pautam elemento essencial para compreender a estrutura da sociedade em que estamos. A sociedade que pretendemos assistir através do Serviço Social, que pretendemos regular através do Direito, os contextos que pretendemos entender e ensinar através da História, a estrutura que pretendemos debater e descrever através das Ciências Sociais, os conflitos que pretendemos mediar através das Relações Internacionais, os métodos que nos possibilitam o aprendizado através da Pedagogia e tantas outras áreas… Todas elas não só afetadas como estruturadas nas bases racistas, epistêmicas, eurocêntricas que negligenciam outras histórias”.
Porém, mesmo com o fortalecimento dos estudantes e do movimento negro, ataques racistas ligados à ocupação correram pelas redes sociais e grupos de WhatsApp. Uma estudante fez um comentário considerado racista e ofensivo por integrantes da greve e dos coletivos.
Mensagem de cunho racista (Imagem: Reprodução / WhatsApp)
Em nota, a Reitoria da PUC-SP suspendeu as aulas por tempo indeterminado e afirmou que está tentando atender às demandas exigidas no protesto. A ocupação continua e, de acordo com os manifestantes, sem hora para terminar.