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Alunos negros da PUC-SP trancam pós-graduação por falta de bolsas

6 de agosto de 2020

Sistema previa 30% das vagas para cotas raciais nos cursos de mestrado e doutorado, mas em 2020 não houve seleção de bolsas; procurada pela reportagem, instituição não se posicionou

Texto: Juca Guimarães I Edição: Nataly Simões I Imagem: Divulgação

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Estudantes negros da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo tiveram que trancar a matrícula nos cursos de mestrado e doutorado devido à falta de concessão de bolsas em 2020. O coletivo de pesquisadoras e pesquisadores negros Neusa Santos Souza, formado por alunos da pós-graduação, fez uma carta aberta à reitoria pedindo a abertura de bolsas emergenciais.

Desde 2017, a PUC tem uma política de cotas raciais, com 30% das vagas voltadas aos cursos de pós-graduação. Essas bolsas são oriundas de programas de fomento como o Capes e o CNPq, que foram suspensos ou tiveram as regras alteradas pelo governo de Jair Bolsonaro.

“A PUC lança dois editais por ano, porém com os reflexos dos cortes do governo federal na área de educação, a instituição não tem nenhuma bolsa disponível. Todos os alunos negros da pós-graduação, após já terem pago a matrícula, tiveram que trancar o curso”, conta uma das estudantes da instituição.

Os alunos trancaram a matrícula no dia 30 de julho. O coletivo Neusa Santos Souza mandou duas cartas para a direção da PUC-SP e para a Fundação São Paulo na tentativa de fazer um acordo para resolver o problema das bolsas, mas a instituição não respondeu nenhuma das duas correspondências.

“O desmonte das políticas públicas e a falta de investimento na educação impactam negativamente na produção acadêmica, principalmente na pós-graduação, onde muitas pesquisadoras e pesquisadores dependem de bolsas para suprirem suas necessidades”, diz um trecho da carta enviada em 27 de julho.

No dia 4 de agosto, os alunos reafirmaram em nova carta do coletivo o pedido de bolsas emergenciais para os estudantes aprovados para a pós-graduação no segundo semestre de 2020. No documento, os universitários destacam “o compromisso da Universidade com a pauta antirracista e a importância do fortalecimento da diversidade para a construção e compartilhamento de novos saberes e novos conhecimentos”.

Recursos

Para pagar a matrícula, alguns dos alunos negros da PUC-SP tiveram que fazer vaquinhas virtuais. “Para a gente que é preto é muito triste isso. A gente luta para conseguir a vaga, mas não tem o nosso direito garantido”, lamenta uma das estudantes.

O valor da mensalidade de um mestrado na PUC-SP custa cerca de R$ 3.400 e o do doutorado custa R$ 3.700. Os alunos que tiveram que trancar a matrícula, no dia 30 de julho, são de cursos como comunicação semiótica, psicologia da educação, psicologia social, entre outros.

A PUC-SP não adota o sistema de cotas para o ingresso na universidade nos cursos de graduação. Também não há um levantamento sobre o número de alunos negros. Entre os funcionários da PUC-SP, a presença de negros também é baixa. O levantamento divulgado em 2019 revelou que a instituição possui 65 funcionários autodeclarados negros, cerca de 4% do quadro. A participação de negros entre os professores é ainda menor. Dos 1.260 educadores da PUC, apenas 10 são negros, 0,7% do total.

Em resposta ao Alma Preta, a PUC-SP informou que “tem buscado recompor internamente as condições de permanência dos alunos” . Para isso, “as solicitações de todos os discentes diretamente afetados estão em trâmite na Instituição para, dentro dos limites possíveis, se tentar responder às diversas demandas e necessidades”.

Por sua vez, diante do início do segundo semestre letivo, o coletivo Neusa Santos Souza ressalva que a solução para a garantia de permanência dos alunos negros na pós-graduação deve ser urgente e estrutural. 

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