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Américas alcançam número recorde de pessoas deslocadas à força

Além do recorde, refugiados sofrem com falta de financiamento para reconstruir suas vidas, inclusive no Brasil

Texto: Redação | Foto: Ricardo Moraes

Imagem mostra um grupo de pessoas enfileiradas em deslocamento em região de mata nas Américas.

Foto: Foto: Ricardo Moraes

22 de agosto de 2023

O número de pessoas deslocadas à força dos locais onde viviam alcançou recorde nas Américas. De acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), chegou a 21,4 milhões de pessoas no final de 2022, o que significa que uma em cada cinco pessoas no mundo que precisavam de assistência estava na região das Américas.

Diante do recorde, o relatório “Necessidades Críticas nas Américas”, divulgado recentemente pela ACNUR, destacou que a agência e seus parceiros têm enfrentado desafios devido ao subfinanciamento de suas operações. Até o fim de julho de 2023, apenas um terço das necessidades financeiras da ACNUR foram atendidas, graças a doações da comunidade internacional, do setor privado e de indivíduos.

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As operações da agência com financiamento mais crítico e necessidades persistentes estão na Colômbia, Costa Rica, Honduras, Brasil, entre outros países.

“Apoiamos fortemente a resposta generosa dos países às pessoas em necessidade humanitária, ressaltando a importância de uma abordagem hemisférica dentro da estrutura da Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, e a colaboração regional para fortalecer a proteção internacional para refugiados e apátridas. No entanto, a falta de recursos financeiros compromete atividades críticas, como o acesso a abrigo e assistência humanitária para os mais vulneráveis, apoio financeiro para necessidades básicas e cuidados com a saúde, reduzindo também as possibilidades de as pessoas se integrarem e contribuírem com suas comunidades de acolhida”, disse José Samaniego, Diretor do Escritório Regional do ACNUR para as Américas.

O que está em jogo com a falta de financiamento?

Entre as atividades que podem ser afetadas pela falta de financiamento estão a manutenção de espaços seguros e abrigos em áreas de fronteira; a distribuição de produtos de necessidade básica; o apoio ao acesso aos procedimentos de reconhecimento da condição de refugiado e aos processos de documentação; a distribuição de assistência monetária em benefício das pessoas vulneráveis; e a implementação de atividades de proteção à criança e prevenção da violência de gênero.

No Brasil, abrigamento emergencial, acesso a meios de vida e assistência monetária são as áreas que mais sofrem com a falta de financiamento. Sem as contribuições necessárias, mais de 13 mil pessoas refugiadas e deslocadas à força podem perder o acesso a abrigamento seguro; mais de 17 mil podem ficar sem itens básicos, como artigos domésticos e de higiene; e outras 10 mil podem não obter o apoio necessário para reconstruir suas vidas e alcançar a autossuficiência no país.

Além disso, a população deslocada à força no Brasil corre o risco de perder o acesso a iniciativas que são consideradas exemplos na região, como aquelas que apoiam especificamente mulheres chefes de família a ingressar no mercado de trabalho ou começar as próprias atividades econômicas.

Soluções inovadoras ajudam população refugiada nas Américas

Diante desses desafios, nas Américas, ao longo de 2022, houve progresso na implementação de soluções inovadoras em vários países para estabilizar as populações afetadas pelo deslocamento forçado e promover sua inclusão. No âmbito da campanha global #IBelong do ACNUR, até o final de 2022, cerca de 83 mil crianças de pais venezuelanos nascidas na Colômbia obtiveram a nacionalidade colombiana. Argentina, Brasil, Costa Rica, Equador, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Uruguai adotaram estruturas de proteção para apátridas e procedimentos de determinação de apatridia, abrindo caminho para a concessão de nacionalidade.

Milhões de pessoas refugiadas e migrantes da região se beneficiaram dos programas de documentação nos países da América do Sul e do Caribe no decorrer de 2022. No Canadá, cerca de 18 mil pessoas refugiadas obtiveram residência permanente, e houve avanços significativos na naturalização nos Estados Unidos da América, México e Costa Rica. Também foram registrados resultados significativos nos programas de reassentamento no Canadá e nos Estados Unidos, que juntos receberam mais de 76 mil pessoas reassentadas.

Vários municípios das Américas também desempenharam um papel importante na proteção dos refugiados ao aderirem à iniciativa “Cidades Solidárias” do ACNUR, comprometendo-se a oferecer proteção e soluções para essa população.

Destacando a importância da abordagem hemisférica da Declaração de Los Angeles sobre Migração e Proteção, o ACNUR também apoia, com outros parceiros, várias iniciativas regionais – como a Plataforma de Coordenação Interagencial Regional (R4V) para refugiados e migrantes da Venezuela, a Estrutura Regional Integrada para Proteção e Soluções (MIRPS) no México e na América Central e o Processo de Quito – que permaneceram ativas, reunindo governos, organizações da sociedade civil, agências de desenvolvimento e setor privado para promover soluções de proteção e integração nas Américas.

As parcerias entre o ACNUR e as instituições financeiras internacionais – como o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Centro-Americano de Integração Econômica – levaram ao aumento do financiamento para os países de acolhida, como Colômbia, Equador e Costa Rica, para atividades de documentação e integração de pessoas refugiadas, solicitantes de asilo e migrantes, beneficiando também as comunidades anfitriãs.

“O enfrentamento da mobilidade humana na região requer uma combinação de ações de impacto rápido, bem como processos de médio e longo prazo. O ACNUR continua totalmente comprometido em aderir a essas iniciativas e trabalhar com os Estados e outros parceiros interessados para fortalecer a proteção e as soluções em todos os estágios do deslocamento”, pontuou José Samaniego.

“No Fórum Global sobre Refugiados, em dezembro deste ano, os países das Américas poderão consolidar sua responsabilidade e compromisso de oferecer soluções para pessoas deslocadas à força e comunidades anfitriãs no continente”, concluiu o diretor.

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