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Amor preto: é preciso ampliar o diálogo sobre bifobia e racismo

Nesta semana do Dia dos Namorados, celebrado em 12 de junho, mês também do Orgulho LGBTQIA+, o casal de mulheres negras e bissexuais Joicy Elleni e Mariana Tayná compartilha o que pensa sobre relacionamento afrocentrado, racismo e bifobia

Texto: Roberta Camargo | Edição: Nataly Simões| Imagem: Acervo Pessoal

Com amor, duas mulheres negras, com black power, se beijando de mãos dadas

9 de junho de 2021

“Eu me encontro nas vivências dela, ela se encontra nas minhas vivências, a gente fala sobre realidades que são muito nossas”. O depoimento é da jornalista e produtora de conteúdo Joicy Eleiny, de 24 anos, se referindo à companheira Mariana Tayná, de 23. As duas se conheceram nas redes sociais e dividem há três anos as vivências enquanto mulheres negras, bissexuais e nordestinas.

“Muitas vezes a gente se conecta pela dor”, lamenta Joicy, que relembra o clima de tristeza compartilhado com a companheira nesta semana ao saber da morte da modelo e designer de interiores Kathlen Romeu, baleada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Joicy acredita que o sentimento compartilhado entre elas não seria o mesmo se estivesse ao lado de uma pessoa branca. Com base em outras experiências em relacionamento interraciais, ela conta que a forma na qual se conecta com Mariana permite se apaixonar todos os dias por uma mulher que a representa. “Ver o nosso amor me inspira força e me faz resistir mais confiante”, compartilha.

Bifobia e racismo

A hipersexualização do corpo negro somada à bifobia, comum até mesmo dentro da comunidade LGBTQIA+, tem como resultado danos à saúde mental das pessoas negras e bissexuais. O tema veio à tona nas redes sociais no início deste ano, com a participação de Lucas Penteado no BBB21, onde se assumiu bissexual. 

Para a Joicy, a intersecção entre as discussões sobre racismo e  lgbtfobia é necessária e urgente. “É muito doloroso você não se sentir seguro e acolhido em lugar nenhum. Às vezes, o espaço que deveria te acolher é o que te violenta”, descreve.

“Dentro da própria comunidade, a pessoa bissexual é vista como alguém que pode te trair com homem ou mulher, por exemplo. Em relação ao racismo, a pessoa preta já é lida como uma pessoa sexual, por causa da hipersexualização. A minha imagem era lida dessa forma”, explica Mariana, que viu nas redes sociais uma forma de ampliar o diálogo acerca dos temas. “Antes de ser uma mulher bissexual, eu sou uma mulher preta e não dá para separar essas coisas”, ressalta a companheira de Joicy.

De forma didática e sincera, Joicy compartilha desde 2015 suas vivências nas redes sociais. No início, o conteúdo era pautado por sua transição capilar. Hoje passa por tópicos como moda, comportamento, diversidade e o relacionamento com Mariana. Atenta aos retornos do público, a produtora de conteúdo afirma que estabelece limites sobre o que fala ou não sobre o relacionamento, mas que reconhece a importância do diálogo sobre essa vivência. 

“Amor preto cura”

Joyce lembra também que a relação com a Mariana marcou um recomeço em sua relação com a família, que rejeitava sua orientação sexual. A jornalista considera que ter uma família inteira que nasceu e cresceu no interior do Nordeste justifica a falta de compreensão no início do processo de descoberta de sua sexualidade. 

“O meu relacionamento com Mariana é político, o nosso amor preto é revolucionário e cura. É uma questão que está além da gente”, declara Joicy, que vê na união de duas mulheres pretas e bissexuais um espaço confortável e de identificação. Foi a partir deste processo de desenvolvimento da consciência racial que a criadora de conteúdo ampliou sua rede de amigos e contatos de trabalho com outras pessoas negras. “Nós somos potências juntas”, finaliza.

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