Anielle Franco, de 35 anos, ficou conhecida nos veículos de mídia no pior momento de sua vida: o assassinato de sua irmã mais velha, a vereadora Marielle Franco, em 14 de março de 2018. Apesar da dor de ter que lidar com a perda de sua parceira de vida e a responsabilidade em dar força aos pais para seguirem em frente, Anielle agarrou a luta pelo legado da irmã.
Escritora, esportista, palestrante e professora, Anielle Franco é diretora do Instituto Marielle Franco. Em entrevista exclusiva ao Alma Preta, ela fala sobre sua trajetória, suas ambições e o papel da militância em sua vida.
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Apaixonada por vôlei, ela começou a praticar o esporte aos oito anos e aos 16 ganhou uma bolsa para estudar e jogar nos Estados Unidos, onde se tornou mestra em jornalismo e inglês pela Universidade de Carolina do Norte.
“Minha família lutou muito para que eu me mantivesse lá e foram 12 anos que eu não me arrependo de ter vivido. Os estudos e o esporte compensavam as dificuldades de ser uma mulher negra e brasileira no exterior. Eu aprendi a me virar sozinha e foi uma experiência de muito crescimento pela vivência de uma cultura diferente e a conquista de dois diplomas”, relembra.
A convite da editora Boitempo, em março deste ano, Anielle Franco escreveu a orelha do livro “Angela Davis – Uma Autobiografia”, da autora e ativista norte-americana. Em julho, quando Marielle completaria 40 anos, Anielle lançou na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) o livro “Cartas Para Marielle”. A obra é uma coletânea de desabafos, entrevistas para reportagens e lembranças da família Franco.
“Eu sempre gostei muito de ler, mas a ideia de ser escritora veio após o assassinato da Marielle e a organização do livro, embora a minha relação com a literatura exista desde muito cedo”, conta.
‘A militância é parte da minha vida, não dá para separar uma coisa de outra’
Defender os direitos humanos, especialmente das pessoas marginalizadas socialmente, sempre foi importante para Anielle Franco, que cresceu na favela da Maré, no Rio de Janeiro (RJ). À frente do Instituto Marielle Franco, seu objetivo é dar continuidade a defesa dos direitos da população negra, pobre e favelada.
“A militância é parte da minha vida desde muito cedo e não tem como separar uma coisa da outra. É um legado de muita responsabilidade e que não é só meu, mas de muita gente. A Marielle representava em um único corpo muitas lutas e é preciso ter punho forte para dar conta disso”, pondera.
Um dos desafios é enfrentar a onda de ódio existente no país. “Hoje todo mundo sente muito ódio da esquerda. As pessoas não sabem o que é direitos humanos e os confundem com ideologia política”, avalia Anielle.
“Mas eu tenho muitos sonhos, como ser professora universitária e devolver para as mulheres negras o que minha mãe e minha irmã me ensinaram. Vamos trabalhar para um mundo melhor”, adianta.