Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Serrapilheira — instituição privada sem fins lucrativos — em parceria com o Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) revela que a presença de professores brancos em programas de pós-graduação nas áreas de ciências exatas, da terra e biológicas é 12 vezes maior que a de pretos, pardos e indígenas.
Enquanto as pessoas brancas representam 90,1% de docentes de pós-graduação nestas áreas, pretos, pardos ou indígenas somam apenas 7,4%, e amarelos, 2,5%. Quando essa proporção é comparada com os dados da população brasileira, o número fica contrastante. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), negros — classificação que reúne pretos e pardos — representam 55,7% do total de brasileiros, enquanto os indígenas representam 0,83%. Juntos, os dois grupos ultrapassam 56% da população.
Quer receber nossa newsletter?
Você encontrá as notícias mais relevantes sobre e para população negra. Fique por dentro do que está acontecendo!
Os resultados fazem parte do estudo “Diversidade Racial na Ciência”, coordenado por Luiz Augusto Campos e Marcia Rangel Candido, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ. O objetivo era de traçar um panorama sobre a presença de negros e indígenas em programas de pós em um contexto em que os dados atuais são precários e de difícil acesso.
As áreas escolhidas para o estudo foram as chamadas “ciências duras” — ou STEM, sigla em inglês para ciências, tecnologia, engenharia e matemática — reconhecidas por serem as mais desiguais quando já observados outros fatores, como gênero. Foram analisados dados das áreas de astronomia/física, biodiversidade, ciência da computação, ciências biológicas, ciências exatas e da terra, geociências, química, e matemática/probabilidade e estatística. Em todas elas, pretos, pardos e indígenas são sub-representados.
“O principal achado é o percentual de pretos, pardos e indígenas nesses programas de pós-graduação. Chegamos a uma estimativa de 7,4%. É muito pouco, mesmo quando comparamos com desigualdade de gênero. Temos cerca de 30% a 33% de mulheres nesses programas, um percentual bem maior do que esses 7,4%”, afirma o coordenador do GEMAA e professor de sociologia e ciência política no Iesp-UERJ Luiz Augusto Campos, em nota para a imprensa.
Quando os dados de gêneros são ligados aos de raça, a desigualdade aumenta. A pesquisa revela que o total de mulheres negras em programas de pós-graduação nas áreas STEM é de apenas 2,5%. Para comparação, o total de mulheres brancas, também sub-representadas em relação à presença na população, é de 29,2%.
O estudo faz parte de um conjunto de iniciativas adotadas pelo Serrapilheira em busca do aumento da diversidade na ciência. Desde 2019, o instituto oferece recursos extras, o chamado “bônus da diversidade na ciência”, para que pesquisadores apoiados invistam na formação e integração de pessoas de grupos sub-representados (negros, indígenas, e mulheres nas ciências “duras”) em suas equipes. Mais informações sobre a pesquisa serão divulgadas no site do Gemaa.