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Após 10 meses, morte de adolescente negro depois de abordagem policial segue sem resposta

18 de setembro de 2020

Familiares e amigos da vítima se uniram a ativistas em protesto por justiça nesta sexta-feira (18); corpo de Lucas foi encontrado em novembro de 2019, com sinais de tortura, em uma represa do ABC Paulista

Texto: Juca Guimarães e Pedro Borges I Edição: Nataly Simões I Imagem: Pedro Borges

Cerca de 50 pessoas participaram de um ato na praça IV Centenário, no paço Municipal de Santo André, na região do ABC paulista, nesta sexta-feira (18), para exigir explicações do poder público sobre o assassinato de Lucas Eduardo Martins, que tinha 14 anos, após uma abordagem policial.

O corpo de Lucas foi encontrado em uma represa após o menino desaparecer em novembro de 2019. O laudo do IML (Instituto Médico Legal) apontou morte por asfixia mecânica e afogamento, perto da Favela do Amor, na Vila Luzita, onde o menino morava.

De acordo com uma reportagem da Ponte Jornalismo, Lucas deixou a casa onde morava com a madrasta, um irmão e a cunhada para comprar um refrigerante em uma quitanda que fica dentro da própria comunidade. A madrasta conta que, de dentro de casa, ouviu a voz de Lucas dizer “eu moro aqui” para alguém. Ao sair, viu uma viatura da Polícia Militar deixando o local. Ela acredita que o enteado estivesse dentro do carro. Depois disso, Lucas nunca mais foi visto.

O ato começou por volta das 14h e contou com a participação de familiares e amigos da vítima, além de integrantes do movimento negro. “Estamos aqui no paço municipal para perguntar quem matou o Lucas? Por que matou o Lucas? Por que interrompeu uma vida de 14 anos? A mãe ficou desesperada até encontrar o corpo. Enquanto procuravam ele, foram encontrados três outros corpos negros em rios”, afirma Katiara Oliveria, da rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio.

No início das investigações, dois policiais militares foram afastados por suspeita de envolvimento no assassinato. “A polícia é corrupta e se esconde atrás de uma farda para matar os filhos da gente e destruir a nossa família. É isso que eles fazem. Hoje eu vivo a base de remédios. Estou em uma depressão profunda”, relata Maria Martins dos Santos, mãe de Lucas.

Maria conta que o corpo do filho estava com marcas de tortura quando foi encontrado. Uma das pernas do menino estava quebrada. “Não tem como o meu filho ter morrido afogado. O que ele iria fazer na represa 1 hora da manhã?”, questiona.

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Manifestantes em frente ao Paço Municipal de Santo André, no ABC Paulista, em ato por respostas sobre a morte de Lucas. (Foto: Pedro Borges)

Para Deise Benedito, Mestre em Direito e Criminologia pela UnB (Universidade de Brasília), o caso do Lucas é parte do racismo estrutural. “A criação de uma identidade criminosa negra no Brasil é antiga. Jovens africanos escravizados que fugiam eram rotulados como elementos em captura. Então se colocavam aquelas placas, aquele que capturar o escravo favor devolvê-lo na delegacia. Essas abordagem policiais de hoje não se diferenciam das abordagens violentas do tempo da escravidão”, pondera.

O defensor público Marcelo Novaes estava presente no ato desta sexta-feira e falou sobre as circunstâncias da morte de Lucas. “Existem indícios de que ele foi retirado de lá por agentes estatais. Eles tinham a obrigação de entregá-lo vivo à sua família”, salienta Novaes, da 1ª Defensoria Pública de Santo André, que deve propor uma ação de responsabilidade contra o Estado.

A assessoria da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo foi procurada pelo Alma Preta para explicar o andamento da investigação sobre o caso. Até a publicação deste texto, o órgão vinculado ao governo do estado não respondeu aos questionamentos da reportagem.

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