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Após quase um ano liberados pela polícia, irmãos são surpreendidos com voz de prisão

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18 de janeiro de 2021

Jovens negros moram em Olinda, Pernambuco, e foram ouvidos e liberados quando suspeitos de assalto em 2020. No último fim de semana, os irmãos foram surpreendidos com voz de prisão e família alega desconhecimento sobre processo

Texto: Victor Lacerda | Edição: Lenne Ferreira | Imagem: Arquivo pessoal

Familiares dos irmãos Joseir Elias Macedo Neto, de 22 anos, e Mateus Francisco dos Santos, 20, moradores do bairro de Peixinhos, em Olinda, denunciam a prisão irregular dos jovens. Eles receberam voz de prisão em casa acusados de um assalto a carro que aconteceu em abril de 2020, no bairro de origem dos dois. Na época, eles foram abordados na rua por policiais civis que buscavam suspeitos. Depois de levados até uma delegacia, os irmãos foram liberados.  

As informações sobre o caso foram encaminhadas para a redação do Alma Preta Jornalismo no último final de semana pela prima dos jovens, a empreendedora Aline Patrícia dos Santos. Ela e a tia, a gerente de loja Ana Paula da Costa, detalham, em áudios, a trajetória do caso que surpreendeu e gerou revolta em amigos e parentes dos irmãos. 

Segundo informações dos familiares, na época em que aconteceu o caso, o bairro já apresentava um número significativo de crimes de roubo, o que aumentou a incidência de abordagens policiais na região. 

A tia dos meninos relata que o roubo do qual eles estão sendo acusados aconteceu nas proximidades do Nascedouro de Peixinhos, próximo à Avenida Jardim Brasília, uma das principais vias do bairro. No mesmo dia do crime, a família afirma que os irmãos estavam caminhando pelo bairro, após voltarem de um salão de cabeleireiro, onde tinham ido cortar os cabelos. Eles foram abordados por policiais, que estavam em busca de suspeitos do assalto que ocorreu em horário próximo. 

“O roubo, se eu não me engano, foi registrado em um domingo, época que os meninos já vinham dormindo comigo, dentro da minha casa. Meus sobrinhos tinham ido cortar o cabelo. Na volta, foram abordados por dois policiais e levados para dentro da sede da Compesa [empresa de controle e abastecimento de água em Pernambuco] de Peixinhos. Lá, foram algemados com mais três ou quatro suspeitos”, detalha a tia. 

Ana Paula ainda afirma que estava trabalhando quando soube do caso através de uma ligação de outros familiares. Assustada com o que havia acontecido, foi para a Delegacia de Polícia de Peixinhos, para onde os, até então, suspeitos, haviam sido encaminhados. 

“Quando cheguei na delegacia, não pude entrar. Só consegui entrar pra beber água. Quando disse ao policial responsável que iria acionar advogado, ele disse que não precisava, pois o caso iria se encerrar por ali”, afirma Ana Paula. Após serem ouvidos, ela conta que os jovens foram liberados sem registro na ficha criminal. 

Mesmo sem intimação, depois de quase um ano e sem estarem cientes sobre qualquer processo de investigação contra os meninos, o que garante os familiares, os irmãos foram pegos de surpresa. Na manhã da última sexta-feira, a avó dos meninos recebeu em casa uma oficial de justiça e dois policiais civis que, segundo a tia dos jovens, já chegaram ao local com armas em punho, em uma abordagem que assustou a todos que estavam na casa. 

“Já acordei com um policial civil me abordando e com a arma no rosto do meu esposo. Quando cheguei no terraço, Mateus já estava algemado no chão. Antes, ele estava tomando banho para ir ao serviço, por ser autônomo, na feira de Peixinhos. Netinho estava em serviço em João Pessoa e, no desespero, pegou uma moto e veio direto para a delegacia”, conta Ana Paula. 

Segundo informações dos familiares, os jovens foram apresentados mais uma vez na Delegacia de Peixinhos, levados ao Instituto Médico Legal (IML), no bairro de Santo Amaro, no Recife, e posteriormente encaminhados ao Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), no município de Abreu e Lima, na Região Metropolitana da capital pernambucana, onde permanecem até o momento. 

“Eu quero que eles saiam de lá livres, de cabeça erguida, sem ficha suja e sem serem taxados de bandidos de roubo de carro, como nenhum outro crime cometido, mas, sim, como inocentes, como entraram e como lá estão”, finaliza a tia, em relato emocionado que tem circulado nas redes sociais. 

A prima dos jovens, Aline Patrícia, conta que uma advogada criminalista já foi acionada pela família e que uma reunião sobre o caso está marcada para às 15h desta segunda-feira (18).

“Justiça por Mateus e Netinho”

Para pressionar as autoridades judiciais responsáveis, a parente afirma que uma manifestação em defesa dos irmãos está programada para a próxima quarta-feira, 20. O ato “Justiça por Mateus e Netinho”, está previsto para acontecer às 11h30, nas proximidades da Casa do Ovo, na Avenida Presidente Kennedy, número 1916. 

A família pretende levar cartazes e parar o trânsito em forma de protesto para o pedido de libertação dos jovens. A ação conta com o apoio de integrantes da Articulação Negra de Pernambuco. 

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