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Área de favelas no Brasil dobra em 35 anos, diz levantamento

São Paulo lidera o ranking, com as 20 maiores aglomerações do país, mas também com cerca de 66 mil pessoas em situação de rua

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução/Agência Brasil

Favelas de São Paulo

12 de novembro de 2021

De acordo com um levantamento feito pela organização Mapbiomas Brasil, as áreas urbanizadas por favelas no país dobraram entre 1985 e 2020. A pesquisa mostra que no período, o território ocupado por essas habitações passaram de 2,1 milhões para 4,1 milhões de hectares.

São Paulo lidera o ranking de favelas no Brasil. Com cerca de 218.985 hectares, as 20 maiores aglomerações populacionais do país concentram 30% das áreas urbanizadas. No entanto, de acordo com o Movimento Estadual da População em Situação de Rua, o estado também conta com 66 mil pessoas vivendo sem lar. Depois de São Paulo, o estado que concentra mais favelas é o Rio de Janeiro (174.534 ha), seguido por Brasília (89.243 ha), Belo Horizonte (87.121 ha) e Curitiba (74.239 ha).

A análise mostra ainda que o crescimento da taxa anual de favelas no Brasil é de 1,97%, o que supera o índice de crescimento da população, que é de 1,45%. De acordo com o Mapbiomas, essas áreas cresceram o equivalente a 95 mil campos de futebol entre 1985 e 2020. O índice temporal das áreas ocupadas informalmente em todo o país mostra que elas são mais sensíveis às políticas econômicas e sociais, crescendo mais em períodos de retração do PIB e com a maior parte da população ocupada por pretos e pardos.

“Por um lado, temos grandes áreas sem os serviços públicos adequados; por outro, risco de acidentes potencializado pela crescente ocorrência de eventos climáticos extremos. Olhar para as ocupações informais pelo ângulo da adaptação às mudanças do clima é fundamental para evitarmos tragédias”, alerta o um dos coordenadores da Mapbiomas, Júlio Cesar Pedrassoli.

Áreas de risco

As imagens de satélite, analisadas pelo Mapbiomas, também permitiram identificar que as favelas estão mais localizadas em áreas com declive maior que 30%, ou seja, que estão mais sujeitas ao risco de deslizamentos. “Elas estão predominantemente localizadas em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Espírito Santo e São Paulo”, aponta o levantamento.

A pesquisa mostra que deslizamentos já começaram a ocorrer no Amazonas, Paraná, Rio Grande do Sul, Alagoas, Pernambuco e Bahia. Ao todo, o crescimento da ocupação urbana em áreas com alta declividade foi da ordem de 40 mil hectares, ou seja, 1 em cada 100 ha já está em áreas de risco.

“A combinação desses dois dados deve acender uma luz amarela para os gestores públicos porque eles criam as condições perfeitas para desastres urbanos”, explica Júlio César.

Destaque para o norte e nordeste do país

A Amazônia lidera o percentual de crescimento das ocupações informais e favelas do território brasileiro, com aumento de 18,2% no período. Os estados que compõem esse bioma também lideram quando o total da área é analisado: no Amazonas, a moradia informal e aglomeração em favelas corresponde por 45% da área urbanizada; no Amapá, 22%; no Pará, 14%; e no Acre, 12,6%.

Das capitais do norte e nordeste, ao analisar o quanto da área total urbanizada é ocupada informalmente por favelas, Manaus, Belém e Salvador se destacam.

“Nas duas grandes capitais da região norte, a informalidade tem sido a regra nos últimos 35 anos, já que, nos dois casos, os percentuais se mantêm acima dos 50%. Belém tem 51% de sua área urbanizada ocupada pela informalidade, enquanto em Manaus esse percentual é de 48%. Quando incluímos os limites das Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) definidas no plano diretor da cidade, Salvador aproxima-se desse padrão, com 42%”, destaca o levantamento.

Biomas atingidos pelo crescimento das favelas

Embora a Mata Atlântica ainda concentra mais da metade das áreas urbanizadas por favelas do Brasil (54,7%), o maior crescimento registrado nas últimas três décadas se deu na Amazônia, Caatinga e Cerrado – todos com taxas de crescimento anual superior à média nacional: 2,5%, 2,53% e 2,08%, respectivamente.

A pesquisa aponta que, das áreas urbanizadas em 2020, 34% eram áreas de pastagens e áreas de uso misto de agricultura, e 13% eram de vegetação nativa em 1985. “As áreas utilizadas para a expansão urbana de favelas refletem o uso do solo predominante em cada região”, diz a análise.

Na região Norte, por exemplo, 32% do avanço se deu sob a vegetação nativa – quase três vezes a média nacional. No sul, quase 10% das áreas urbanizadas em 2020, eram dedicadas à agricultura em 1985, enquanto que na média brasileira, esse percentual é de apenas 4%.

O Cerrado, que de acordo com a Mapbiomas, já detém um quinto das áreas urbanizadas por favelas do país, foi o bioma que mais perdeu vegetação nativa para a expansão urbana: dos mais de 388 mil hectares de vegetação nativa que foram convertidos para áreas urbanizadas por ano, 33% (127 mil hectares) estavam no Cerrado, seguido da Amazônia (quase 92 mil hectares).

“Em termos percentuais, o bioma que mais perdeu florestas foi a Mata Atlântica: 58,3% da vegetação nativa convertida para áreas urbanas nesse bioma eram florestas. Na Amazônia, esse percentual foi de 44,1%”, finaliza o informe.

Leia também: ‘Racismo é responsável por mais de 60% dos casos de depressão em favelas do Rio durante a pandemia’

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