Sinônimo de saúde, bem estar e qualidade de vida, o direito à alimentação é algo básico no dia a dia de qualquer pessoa. No Brasil, a desigulade social anula um direito que deveria ser garantido pelo Estado. Pensando em combater o cenário de insegurança alimentar e fome, movimentos sociais atuantes no Recife se juntaram à Campanha da ONG Mãos Solidárias, que leva o mesmo nome, e implantaram uma Cozinha Popular Solidária na área de palafitas, no Bairro do Pina, Zona Sul do Recife.
Construído coletivamente com a ajuda de pessoas de dentro e fora da comunidade, o espaço tem capacidade para produção de cerca de 500 refeições diárias, que vão alimentar centenas de famílias; pessoas em sucessivos quadros de vulnerabilidade que, nos últimos semestres, tiveram que lidar com um desafio ainda maior para sobreviver: a pandemia pela COVID-19.
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Para Duda Vasconcelos, militante da Pastoral da Juventude Rural de Pernambuco – organização que também ajudou na construção da estrutura e deu suporte às famílias locais -, em conversa com a Alma Preta Jornalismo, a implementação da cozinha é reflexo de um cenário de urgência por necessidades básicas que não era visto com tanta força em anos anteriores.
“A fome voltou ao Brasil, as pessoas voltaram a passar fome, a comer sem dignidade. Nas palafitas do Pina isso é muito visível, com impacto nas crianças, onde a taxa de desnutrição é alta, onde as pessoas vão para rua tentarem conseguir comida, já que não contam com trabalho e moradia dignos. É por isso que nós estamos na localidade tentando mudar a vida dessas pessoas a partir do básico”, explica a jovem.
Dados do ‘Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil’, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), demonstram ainda mais este cenário. Segundo o levantamento, cerca de 19 milhões de brasileiros passaram fome e mais da metade dos domicílios no país enfrentou algum grau de insegurança alimentar nos últimos meses de 2020. Números que são alarmantes.
Para ajudar a garantir a sobrevivência de famílias pobres da localidade, o projeto conta com suporte e incentivo da Arquidiocese de Olinda e Recife, da Federação Única dos Petroleiros (FUP), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e demais movimentos sociais. Todos, em publicação feita em rede social, reiteraram o mote da ação afirmando que “Com fome, não há luta e, por isso, seguimos juntos para amenizar o sofrimento de tantas famílias”, declararam.
Membros de movimentos afirmam que a chegada da cozinha é sinônimo de esperança para a comunidade por estarem acompanhando, de forma concreta, a construção de algo que era distante enquanto medida tomada pelos órgãos públicos e as gestões municipais e estaduais. No momento, a estrutura funciona três vezes por semana garatinho uma refeição ao dia, o almoço.
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De acordo com a Pastoral da Juventude Rural de Pernambuco, a meta é garantir as três refeições básicas por dia, de segunda à sexta, mas ainda existem percalços para que o projeto avance.
“A gente espera que a cozinha possa avançar com a chegada de mais voluntários para ajudarem na produção das marmitas, além de mais doações para darmos continuidade ao projeto. Quanto aos órgãos públicos, esperamos que ação possa fazer enxergar o quão carentes são os moradores da região, que não contam com saneamento, coleta de lixo, saúde e à vacina, por não terem documento e comprovante de residência, por exemplo”, finaliza a representante Duda Vasconcelos.
Para quem quiser ajudar, informações sobre doações estão disponíveis através do contato: (81) 99855-3121. Para quem mora na capital ou próximo, os alimentos podem ser recebidos no endereço do ‘Banco Mãe’, localizado na Rua 1º de Março, número 34 (entrada pela rua do Imperador Dom Pedro II, ao lado do Armazém do Campo Recife).