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Armas de fogo: o alvo tem cor

12 de setembro de 2018

No Brasil a população negra é 2,5 vezes mais vítima de armas de fogo do que população branca

Texto/Aline Bernardes

Imagem/Agência Brasil

 

Além de ser a maior vítima de homicídios de maneira geral, os negros também são as principais vítimas das mortes por arma de fogo no país. O levantamento mais recente do Atlas da Violência 2018 expõe que diversos fatores fomentam a violência letal no Brasil, como: desigualdade socioeconômica, ineficiência do sistema de segurança pública, grande presença de mercados ilícitos e facções criminosas. Mas uma das principais facetas seria a desigualdade racial.

O Mapa da Violência de 2015 mostra que das 39.686 vítimas de disparo de qualquer tipo de arma de fogo, em 2012, 28.946 eram negros e 10.632, brancos – a diferença nesses números aponta que as vítimas desse tipo de morte foram 2,5 vezes mais entre a população negra do que na de brancos. Ou seja, para cada grupo de 100 mil habitantes, a taxa de vítimas da cor branca ficou em 11,8 óbitos, enquanto a de negros chegou a 28,5 mortes, percentualmente uma diferença de 142%.

Esse levantamento usa dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que registra as declarações de óbito expedidas em todo o país. O recorte racial das vítimas de armas de fogo é determinado pelas opções dadas pelos entrevistados segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – branca, preta, parda, amarela ou indígena – na elaboração dos censos demográficos. A série do Mapa da Violência abarca o intervalado entre 1980 e 2012, entretanto a classificação das mortes por arma de fogo conforme a cor da pele começou a ser realizada apenas em 2002.

Na comparação por estados do Brasil, Alagoas e Paraíba destacam-se pela “seletividade racial” nos homicídios por arma de fogo. Nessas federações, a diferença superou 1.000%. “Para cada branco vítima de arma de fogo nesses estados, morrem proporcionalmente mais de 10 negros, vítimas de homicídio intencional”, informa uma passagem do levantamento. “Não preocupa só a trágica seletividade de negros e de jovens nesses homicídios, incomoda muito mais verificar a tendência crescente dessa seletividade ao longo dos últimos anos”, destaca o documento.

Para a historiadora  e pesquisadora em negritude e criminologia, Suzane Jardim, há um diálogo de modo muito próximo com as questões maiores da segurança pública e da marginalidade. “Em certos estudos sociológicos se identifica a lógica imposta pelo racismo estrutural de manter a violência como cotidiana nas áreas mais pobres – onde a população negra é numericamente maior – deixando com que esses cidadãos territorialmente e racialmente marginalizados sejam exterminados pela violência do dia a dia – seja pelas forças policiais, seja entre si” disse ao Alma Preta.

Conforme aponta o Mapa da Violência, ao mesmo passo em que as taxas de homicídios de brancos por arma de fogo caíram de 14,5 para 11,8 em 100 mil brancos, entre 2003 e 2012, os números em relação aos negros no mesmo período aumentaram de 24,9 para 28,5. “Com esse ritmo marcadamente diferencial, a vitimização negra do país, que em 2003 era de 72,5%, em poucos anos duplica: em 2012 já é de 142%”, destaca o levantamento, elaborado pela Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) no Brasil.

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