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‘As empresas nos tratam como lixo, apesar de dependerem de nós’, diz entregador de aplicativo

23 de julho de 2020

Trabalhadores convocam uma nova mobilização para o sabádo (25) a fim de barrar entregas para pressionar aplicativos a alterarem o valor mínimo da taxa de entrega e fornecerem seguro em caso de acidentes e contra roubos

Texto: Guilherme Soares Dias | Edição: Nataly Simões | Imagem: Karime Xavier

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Os entregadores de aplicativo de São Paulo pretendem fazer uma nova manifestação no sábado (25). Diferente do ato de 1º de julho, onde milhares de trabalhadores foram às ruas, desta vez a intenção é paralisar as saídas de pedidos dos principais restaurantes e shoppings centers da cidade. Os entregadores querem garantir que os serviços não ocorram para pressionar empresas como Ifood, Rappi e UberEats a fornecerem melhores condições de trabalho. “Eles nos tratam como lixo, apesar de dependerem de nós”, relata Tiago Bonini, de 28 anos.

O entregador faz parte de um movimento que ficou conhecido nos últimos meses o de Entregadores Antifascistas. Bonini lembra que a intenção da próxima mobilização é garantir mudanças nas taxas de entrega. Hoje cada entregador recebe menos de R$ 1 por quilômetro rodado. O objetivo dos trabalhadores é simples, aumentar para R$ 1,50 esse valor. “Às vezes não compensa, não paga nem a gasolina”, afirma.

Outra demanda da categoria é o direito ao seguro em caso de acidentes de trabalho e contra roubos. “Muita gente é roubada e fica sem conseguir trabalhar. Se sofre acidente fica na mão. Os aplicativos dizem que fornecem seguro, mas não é verdade. Queremos uma garantia que seja pago”, explica Bonini.

A estimativa é de que existam cerca de 250 mil entregadores na cidade de São Paulo. De acordo com a Pesquisa do Perfil dos Entregadores Ciclistas de Aplicativo, elaborada pela Aliança Bike, a média salarial da categoria é de R$ 963 por mês e pelo menos 14h de trabalho por dia. Do total, 71% dos trabalhadores são negros.

O grupo de Entregadores Antifascistas pede ainda que os aplicativos garantam café da manhã, almoço e janta aos trabalhadores. “Há dificuldade de alimentação. É caro comprar comida na rua e não dá para levar marmita porque estraga”, contextualiza Bonini.

O trabalhador, que é mecânico automotivo desde os 16 anos, começou a fazer entregas há um ano. “Quando fui mandado embora, comprei bicicleta e comecei a trabalhar no aplicativo porque queria mudar de profissão. Vi o aplicativo como alternativa para trabalhar e estudar outra profissão. As maiores dificuldades são a locomoção. Vou de bicicleta. O relacionamento com os donos de restaurante também é difícil.  Entre as mulheres, há dificuldades como assédio e o medo de trabalhar a noite. “É ainda mais complexo”, considera.

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