As vulnerabilidades socioeconômicas foram agravadas pela chegada da pandemia pela COVID-19 no país. A falta de políticas públicas destinadas às classes que mais sofrem geram ainda mais dificuldade no acesso à direitos básicos. É o caso da assistente de compras e produtora cultural Ane Dilei, 26, que foi despedida em dezembro de uma empresa de delivery do Rio de Janeiro e veio tentar novas oportunidades no Recife, em fevereiro. “Vim em busca do que não encontrava onde morava. Além de preta e periférica, estava na pandemia, desempregada e com baixo nível de oportunidades. Um cenário que me bota em um lugar de desvalorização enquanto mulher negra trabalhadora”, desabafa.
“Ter um emprego formal me ajudava no dia a dia e ainda me abria portas para poder investir, minimamente, na minha carreira artística. Hoje, estar desempregada no momento envolve outras questões além de só as financeiras. Envolve autoestima e segurança. E isso, obviamente, é um reflexo do nosso estado, que hostiliza e marginaliza a periferia, negando oportunidades e diminuindo as possibilidades de uma vida mais digna”, denuncia Ane, às vésperas de 1º de maio, data de comemoração internacional do Dia do Trabalhador.
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A história da jovem é um exemplo do que ilustra um levantamento feito no último trimestre de 2020, que revelou que a crise sanitária atingiu fortemente a construção civil e, principalmente, áreas voltadas ao comércio, duas atividades que mais empregavam e ainda abriam portas de acesso para a população negra em relação às outras áreas do mercado. A última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que negros representam 72,9% das pessoas sem carteira assinada no país, número de um total de 13,9 milhões de pessoas nessa situação.
Ainda de acordo com o levantamento, 11,9% das pessoas sem empregos formais são pretos e 50,1%, pardos, dados que podem sofrer influência da autodeclaração nas entrevistas para formulação de estatística. O protagonismo segue com os recortes de taxa de participação de mercado com diminuição de 13,1%, queda da renda em 21,8% e horas trabalhadas, com a negativa de 16,9%, todos os dados em relação ao trimestre anterior do mesmo ano.
Diante das estatísticas alarmantes, a resposta mais recente do atual Presidente da República, Jair Bolsonaro, foi dada em declaração em coletiva. Sem dados ou pesquisas que comprovem a sua afirmação, Bolsonaro, na última quarta-feira (28), declarou que os empregos que foram retirados durante o período de crise sanitária devem ser de responsabilidade das chefias estaduais e municipais, àqueles que adotaram medidas restritivas para a diminuição da propagação da COVID-19. O isolamento social foi umas das principais medidas apontadas por especialistas como estratégia para conter o avanço do vírus no mundo.