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Número de brasileiros autodeclarados negros cresce em 20 anos

Um dos possíveis motivos para a crescimento é um forte processo de mudança na identificação racial da população

Texto: Caroline Nunes | Edição: Nadine Nascimento | Imagem: Reprodução/Faculdade Florence

Imagem mostra o recorte de vários rostos negros e representa a autodeclaração de pessoas negras de diferentes tonalidades de pele

6 de julho de 2021

A autodeclaração de pessoas negras aumentou nos últimos 20 anos, de acordo com a análise “De norte a sul, de leste a oeste: mudança na identificação racial no Brasil”. Publicado na Revista Brasileira de Estudos de População, o levantamento investiga os motivos por trás deste aumento. 

O estudo aponta que em 1995, 68,17 milhões de pessoas se autodeclaravam pretas e pardas; em 2001 eram 79,6 milhões; já em 2015, 107,06 milhões se autodeclaravam negros.

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“O aumento da autodeclaração é uma conquista do Movimento Negro Brasileiro e impacta na formulação de políticas públicas, adicionando valor à luta antirracista no país”, é o que diz o ativista Abílio Ferreira, especialista em Cidades, Planejamento Urbano e Participação Popular pela Unifesp.

Os dados mostram ainda que em 1995, 54,39% dos indivíduos da população brasileira se autodeclaravam brancos e 45,10% negros. Já em 2015, as proporções praticamente se inverteram, com os negros representando 53,52% dos brasileiros, e os brancos 45,74%. As informações mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) mostram que em 2020 56,2% da população brasileira se autodeclarava preta ou parda.

“A maior visibilidade da questão racial, bem como debates e manifestações podem também ter corroborado para o aumento na autodeclaração. Combinados à pesquisa e estudos no campo da antropologia e sociologia, acontece a interseccionalidade, que enxerga o debate em várias dimensões”, salienta o professor e sociólogo da Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), José Cláudio Alves.

A análise revela que, a partir de 2007, as pessoas negras se tornaram maioria na população brasileira por três motivos: o primeiro diz respeito à taxa de fecundidade das mulheres negras, que é maior do que a das brancas; o segundo está associado à miscigenação no Brasil, e a outros fatores que envolvem a identificação racial ao nascer; já o terceiro possível motivo está atrelado a um forte processo de mudança na identificação racial dos brasileiros – por conta da autodeclaração.

Para Abílio Ferreira, o fenômeno se dá como resultado direto da intensificação do debate público sobre racismo que, por sua vez, resulta da desconstrução do mito da democracia racial – uma das principais bandeiras de luta do movimento negro, segundo ele. 

Ferreira ainda pondera que o fato de a população negra ser maioria no país traz em si a possibilidade de formular políticas públicas específicas para o grupo. “Não só isso, permite também considerar que se trata de uma especificidade universalizante, que nos conecta às pessoas negras – e também as não-negras, mas antirracistas – de todas as partes do mundo”, ressalta.

O ativista destaca que o debate sobre o colorismo deve ser mantido em pauta em conjunto com outros termos utilizados para classificar a população negra em geral, como afrobrasileiro e afrodescendente. “Essas variáveis são muitas vezes evocadas num mesmo contexto, como se tivessem o mesmo significado. Mas creio também que aí reside a complexidade inerente à sociedade multicultural que construímos”, pondera.

A pesquisa é assinada pelo doutor e mestre em Ciências e Economia Aplicada Josimar Gonçalves de Jesus. Com base nos dados apresentados, pode-se verificar também que, por região, entre 2001 e 2015, a autodeclaração subiu 10,37% no Sudeste; 6,95% no Sul; 4,55% no Centro-Oeste; 4,52% no Norte; e 2,81% no Nordeste.

Leia também: ‘Conheça a sociedade de combate às fake news criada no século 19’

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